tag:blogger.com,1999:blog-384543902024-03-06T21:33:42.084-08:00correr os camposUnknownnoreply@blogger.comBlogger66125tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-48771655564012707112015-01-28T18:49:00.004-08:002015-01-28T18:56:05.162-08:00Sobre as bênçãos que os sofrimentos nos trazemDepois de passada a tempestade interna, voltou, enfim a calmaria. Em um mês, Janaína sentiu que viveu mais coisas do que poderia imaginar. A impermanência veio. Assim como todos os budistas cansavam de lhe alertar. Sim, Janaína, da mesma forma que as coisas surgiram, elas somem. Como num passe de mágica. Até mesmo um amor. Quando aquilo aconteceu, ela não queria acreditar. Achava que estava vivendo um filme de mau gosto. Não, aquilo não podia estar acontecendo com ela. Era a única coisa que conseguia pensar. Mas, sim, estava. A experiência de sonho era aquela anterior, a de achar que as coisas duram pra sempre, a de se acostumar com as coisas como elas são.. A gente do Ocidente sofre bastante disso. Bom seria se aprendessemos desde pequenos que a natureza das coisas é a de morrer. Morrer inesperadamente. <br />
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Foi nos olhos azuis fundos de uma amiga espiritual que ela encontrou o ensinamento: "Se você está sofrendo, é porque está apegada. Aproveite esse momento para praticar sobre a impermanência ". E assim ela fez. Tomou sua dor como uma bênção. E de repente, ela começou a ter mais clareza sobre as suas emoções. Cada coisinha que ia sentindo, ela parava, meditava, contemplava. E viu quando sentiu carência. Aquele desejo de ter o outro de volta. E viu quando sentiu ciúme. Mas o difícil mesmo foi quando ela observou a raiva. Saiu de si. E aprendeu bastante. Se viu nos olhos e nas dores de muitas mulheres. E quis odiar todos os homens. Mas parou, contemplou. E sentiu compaixão delas e deles. E desejou que todos eles se libertassem de suas emoções aflitivas. E lhes desejou a felicidade verdadeira. E quando a raiva passou, ela viu como estava cega e violenta. Depois, só sobrou o desejo de que ela também tome refúgio nas verdadeiras causas da felicidade. E ela agradeceu a experiencia de viver uma dor tão profunda e aprender tanto com ela.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-47948757660910094252014-01-10T08:39:00.001-08:002014-01-10T08:39:41.800-08:00Passado tanto tempo, eu, Maria Mercedez venho aqui ver o que ainda tem de mim nesse blog. Acho bonitas algumas coisas, mesmo elas não sendo mais verdadeiras pra mim. Mas pra quê que a gente precisa de uma fidelidade com a realidade, não é mesmo? Afinal de contas, depois que me aproximei do budismo, muitas coisas que fazem a gente fazer arte não fazem mais sentido. A gente faz arte pelo sofrimento, pelo menos no meu caso, é a angústia, a inquietação emocional o que me dá vontade de escrever. Se eu tou bem, se tou tranquila, não escrevo, apenas vivo. Então penso que a literatura pode ser só uma brincadeira com esse sofrer, como diz Pessoa, "fingir tão completamente" até "chegar a pensar que é dor a dor que deveras sentimos". Minha relação com a literatura se transformou nisso, nessa brincadeira com o sentir que a escrita e a leitura provocam. A gente não precisa sofrer de verdade, a gente pode simular um sofrimento. Mas é engraçado esse prazer que a gente tem com o que o budismo chama de sofrimento, que nada mais é do que as emoções. A gente acha que pra ser feliz a gente precisa delas, que felicidade é sinônimo de efusividade. Mas descobri que não, que felicidade é uma sensação de bem estar, que por vezes deixa a gente efusivo, mas não tá condicionada a isso. E que envolve uma clareza de perceber que os momentos tristes também virão, aceitá-los, vivê-los.. Bem importante pra entender tudo isso, foi a meditação. É incrível isso, que simplesmente parar, sentar,faz a gente ir ganhando clareza sobre as coisas. Faz a gente parar de viver num turbilhão que atropela a gente.. Mas voltando ao tema inicial, eu falava, então, faz sentido ainda escrever, pra mim? Penso que isso pode ser importante num processo de autoconhecimento. É legal ir registrando o que a gente tá sentindo em determinados momentos, pensar em como reagimos aquilo e ver depois. E depois de muitos anos, ver como amadurecemos em certos pontos, em outros não ainda.. Acho que é isso por enquanto..Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-36053851940337435502012-12-27T17:40:00.001-08:002012-12-27T17:40:43.912-08:00Numa procura por me achar, percebi que isso nunca poderia acontecer, que eu nunca acharia nada, que não tem o que achar. Li num livro que na verdade a gente parte em busca de um não-eu, algo bastante desesperador pra nós ocidentais, que temos o eu como centro de tudo. E nessa possibilidade de haver um não-eu foi que me perdi, que me assustei, que me desesperei. Mas será possível? Possível acho que seja. Mas, pra mim? O eu fica a todo tempo brigando, querendo ter o controle das coisas, a pensar " a felicidade não é assim, minha cara", "A felicidade é por ali". Aí você acredita nesse eu, vai atrás dessa felicidade e vê que era tudo mentira. Mas quem era mesmo que estava procurando algo? Então era só parar. Era isso? E deixar que o silêncio descortine tudo. Calar o eu quando ele quiser falar. Vazio. Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-86188848161942165452012-12-04T16:58:00.002-08:002012-12-04T17:00:05.585-08:00Hoje, ali, olhando aquela poesia em forma de bonecos que se moviam com a sutileza de mãos femininas bordando o vento, ela se lembrou de seu amor do passado, do gosto de tristeza que ficou... Ela acha que até poderia construir uma vida com ele, mas ele precisaria acessar elementos em si que ela não sabe quando ele conseguirá, ela não sabia se um dia isso irá acontecer, mas prefere ser otimista e desejar que sim. Parece que ela não iniciou mesmo um novo ciclo amoroso - era assim que ela sentia.. Será que isso teria a ver com o tempo? O tempo que passou junto a ele, que dividiu o cotidiano.. Será que era mesmo isso que mais importava? A memória.. ela sempre ia e voltava em suas ideias e retornava para essa em específico.. a memória.. Mera soma de fixações que não deve levar tão em conta? Ou soma de afetos que produzem quem somos hoje? Será mesmo importante juntar esses cacos do passado? Trazer tudo à tona de novo? Ou estar sempre construindo um novo presente, livre de tudo isso? Ou essas duas coisas também não precisam estar separadas? Então juntar os cacos com liberdade, vendo tudo com ludicidade.. Seria assim? Aí ela se lembra mais uma vez de Manoel de Barros, aquele velho eterno menino, que resolveu inventar suas memórias! Isso sim é lidar de forma livre com aquilo que passou! Será que é assim? Num sei, só sei que acho tão bonito ver ele falar dos insetos e das coisas imprestáveis e da arte da palavra.. Ele sou eu no meu eterno presente. Isso eu sei, sempre serei ele. É só buscar lá dentrinho de mim que acho aquele velho menino. Assim, toda vez que me perco, pego as memórias inventadas dele e me acho de novo. Pelo menos esse amuleto eu tenho.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-79034987634038545982012-09-12T17:53:00.000-07:002012-12-27T17:53:44.492-08:00O brilhoDo lado de cá, a tranquilidade da meditação silenciosa. Coração gélido? Não sei, só sei que me protege. E é disso que preciso no momento. Me envolvo, fico vulnerável, me entrego, depois volto a ficar firme. No café você me falava coisas sem sentido, teorias sobre o surgimento da terra e explosões solares. Nada disso eu escutava, conseguia apenas reparar na criança triste que passava com a mãe. Mas que cara poderia ser aquela? Não era cara de tristeza infantil, era algo grave, doloroso. Olhos fundos. Vai ver não era a criança que sentia aquilo, mas eu, me enganando e comendo aquele bolo de banana, afogando no doce a mágoa que você me fez. Você aí, nada afetado por todo aquele turbilhão me deixa ver que de fato não está aqui. Será que algum dia esteve? Prefiro caminhar na praia sozinha, sentir a brisa me tocar, o cheiro de mar me envolver. Esquecer o que não era pra ser. Velejo em mim, procurando ondas mais calmas, encontro poços de águas muito bonitas, dentro pedrinhas brilham, ofuscam meus olhos e sei que não há nada ali. Não, não há nada. O que há é a felicidade de saber que o brilho ainda existe e sempre existirá e que o destino das águas é permanecerem mansas e profundas, assim como está meu coração agora.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-63523994437994299862012-07-03T17:44:00.000-07:002012-12-27T18:06:10.435-08:00Uma dor de ver, dor de saudade, dor de perda<br />
Mas perder o quê, se nunca tive? <br />
Vou amar onde for<br />
Mesmo que não debaixo daquele teto, de dentro daqueles corações<br />
Amo no mundo aberto, debaixo do sol<br />
Canto pros passarinhos que quiserem ouvir<br />
Não sei cantar ainda<br />
Choro de não saber<br />
Mas depois me lembro que tem sempre alguma coisa que a gente pode oferecer<br />
Um carinho transparente em forma de pensamento é o que eu posso dar agora<br />
Então fica sendo<br />
Mas até quando? <br />
Não importa<br />
Vou não sei pra onde do infinito, pra casa que não tem portas nem janelas, pro vazio cheio de luz<br />
Deixo tudo que é de ferida, de marca, de sentimento<br />
Levo só minha vontade<br />
Hoje é o que tenho de mais minha<br />
E fica sendo até não sei quando<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-14078014044713352582012-05-23T20:17:00.001-07:002012-05-23T21:20:35.289-07:00A menina cabocla<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA2I3EbNDPXiuZT-UzLc-dpNhW20cCmxAGPz6uQ6DVNJ-Y_aQwqHH3lebB9ceqtwKnWZfTV4tya4kPB9RYmaI5yA1zQW3elZT6BW8Zj9wiVZW_d6bSvhjWAc-ZvWU0bIxxZwsa/s1600/Rob.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="320" width="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA2I3EbNDPXiuZT-UzLc-dpNhW20cCmxAGPz6uQ6DVNJ-Y_aQwqHH3lebB9ceqtwKnWZfTV4tya4kPB9RYmaI5yA1zQW3elZT6BW8Zj9wiVZW_d6bSvhjWAc-ZvWU0bIxxZwsa/s320/Rob.jpg" /></a></div><br />
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Num dia lindo de outono, Maria das Graças acordou e descobriu que estava grávida. Como ela sabia? Ela começou a sentir algo muito profundo dentro dela, não sabia o que era direito, só que era algo muito forte, que penetrava lá dentro, assim como faz o som dos violinos. Ela se levantou de súbito da cama, sacodiu Artur, que dormia ao seu lado: "Artur, Artur, acorda, Roberta nasceu aqui dentro de mim". Fazia um tempo que o casal queria ter mais uma menina pra embelezar a casa. Foi dito e feito. Quando Roberta nasceu,em fevereiro, todo mundo quis ver o bebê na maternidade. Era de espantar o sorriso luminoso que a menina tinha. Ela era morena, dos olhos fortes, iguaizinhos aos da avó cabocla dela. Roberta tinha uma coisa diferente, mas ninguém sabia explicar direito o que era. <br />
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A menina foi crescendo.. O passeio que ela mais gostava de fazer era ir pro Sertão, parece que aquela terra laranja era da mesma matéria de sua pele, seca e forte. E assim mesmo era Roberta. Chorar? Chorava nada. Podiam fazer o que quisessem com ela, ela ficava lá, braba toda, incólume. Ela aprendeu com as terras de sua vó, que sustentavam aquele cacto todo o tempo, quando dava uma chuvinha pequenininha, era tudo ficando verde. Foi naquela terra rachada que Roberta aprendeu a viver, economizava o choro, igual que nem o Sertão economizava água. Sua vó até tentava lhe explicar, "Mas, Roberta, Deus num tá economizando não minha filha, o problema é que os vaqueiros num tão cantando direito, eles tem que cantar sete vezes em cima lá da serra "Ôoooe", pra avisar a Deus que ele pode mandar derrubar o aguaçeiro". Roberta fingia que acreditava, mas ela sabia que na verdade o Sertão era igual a ela, num chorava porque era forte!<br />
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Mas num era só essa a característica da menina não, o que fazia de Roberta uma menina diferente, e que fez Dona Graça sentir desde que a menininha era semente dentro dela, era na verdade a mistura dessa força com uma bondade muito grande. Desde pequena Roberta num podia ver ninguém precisando de ajuda no meio da rua, sempre dava um jeito de fazer alguma coisa. Um vez tava na praia e viu um menininho negrinho todo triste. Aí Roberta chegou perto e perguntou o que ele tinha. O menino tinha pego o único dinheirinho que tinha e tinha comprado picolé pra vender na praia, mas foi jogar futebol e esqueceu de vender.. resultado, o picolé virou suco.. O que foi que ela fez? "Oxe, mas eu adoro suco de picolé, é meu preferido! Foi lá e comprou tudinho, e ainda bebeu, era morango, misturado com chocolate, com coco, pense num suco bom!". Mas o que Roberta quase morria se visse era bichinho abandonado. Pense que ela ficava triste! O sonho dela era ter uma casa gigante, cheia de bichinho que ela pegasse na rua.<br />
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Quando Roberta cresceu, num tinha ninguém mais estudiosa que ela no colégio, "eita menina danada", organizada, então! Ela só num gostava de namorado: "Esses trê lê lê prá cá e pra lá né comigo não!. Eu só vou é casar quando encontrar um homem que preste!". E assim foi.. Um belo dia tava Roberta sentada na frente da biblioteca, lendo pras crianças que tinham por lá, aí aparece um moço, bonito que só Harry Potter, ela olhou assim por detrás daqueles óculos.. Ele olhou assim pros olhos de cabocla dela.. Foi paixão na certa. No outro dia já tavam marcando o casamento. Levaram o cachorro, meia duzia de gato e foram simbora. Felizes estavam , felizes ficaram. Todo dia a família aumentava, era um bichinho que Marcelo trazia pra casa. Dia desses ele trouxe uma família inteira de gato. Tinha visto primeiro o filhinho, ficou com pena do coitado, era orfão. Mas daqui a pouco chega a mãe, tava com a patinha machucada, bichinha. E o pai então!? Tava magrinho, magrinho. Ele já tava pronto pra ir embora, quando vê aparece o resto dos filhotinhos, ele num ia deixar sete orfãos, num é? Aí pronto, teve que levar todos. Foi assim que Marcelo explicou a Roberta quando chegou em casa. <br />
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Quando Roberta cresceu e ficou bem grande, ela começou a ficar triste porque a mãe dela, aquela mesma que tinha dado a vida a ela, tinha virado estrela. "Mas Roberta - diz sua vó cabloca - ser estrela é a maior sorte que a pessoa pode ter. Você sabia que a luz que as estrelas tem, servem pra iluminar a gente tudinho aqui na terra? Mas num é iluminar só de luz não, minha filha, é de energia também. Sua mãe quis ser estrela pra ajudar muita gente. Você num fique triste não, que a estrela também tá brilhando em você. Dentro do seu coração minha filha, tem uma estrela tão forte, que você num sabe, mas a gente, da linhagem das cabloca tem essa missão, viu? A gente nasceu foi pra trazer luz pro povo daqui. Então chore, chore tudo que você num chorou nesse tempo todinho,e deixe as terra do nosso sertão bem verdinha, que é pra florir bem muito. Mas depois, minha filha, você tem que voltar com aquele sorriso luminoso que só você tem. Sua mãe tá bem, num se preocupe não. Vá cuidar dos seus bichinhos, vá". Aí Roberta ficou melhor, chorou, chorou, regou as plantas tudinho, e toda noite ela olha pro céu pra matar a saudade da mãe-estrela. <br />
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Miaaaau, miaaaaau (diz a família dos gatinhos )<br />
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Ôooooe, Ôooooe (fazem os vaqueiros no Sertão)<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-51589012976119271912012-05-20T10:00:00.001-07:002012-05-20T10:01:48.935-07:00Carta à minha mãeO amor não exige nada em troca, ele apenas se dá pelo prazer de se dar. Um dia, mãe, tu soubesse que esse amor existia. Mas por que tu esquecesse? Tu diz que sofreu muito, que já passou por muita coisa e por isso tu faz o que faz. Mas tu tá feliz agora, mãe? Olhe bem dentro de si mesma, veja se a cirurgia plástica, se o salão de beleza, se os sapatos e bolsas te fazem realmente feliz... Você tem uma coisa que eu admiro bastante, que é uma energia muito forte, que se recupera bem fácil. Você mesma sabe, você não consegue passar mais de um dia triste, tem uma alegria interna maior, tem um sol dentro de si, aquele mesmo sol que lá em Candeias você fazia questão de nos mostrar de manhãzinha. Isso é muito bonito, mãe. Mas tem algo em você que não anda nada bem, um estresse permanente, um achar que precisa fazer certas coisas quando você não precisa de nada disso! Mãe, foi você que me ensinou a ser assim como sou, a me sensibilizar com as injustiças desse mundo que a gente vive. Agora, você mesmo entrou nesse jogo, nessa trama, e nem mesmo percebe... Não, mãe, não quero chegar no fim da vida e me perguntar com tristeza “O que foi que fiz da minha vida?”. Eu não consigo, mãe, só consigo viver tendo certeza a todo momento que o que estou fazendo é certo. Chegam horas que os homens param e se perguntam o sentido disso tudo, quando nada mais parece fazer sentido. Eu vivo me perguntando isso, mãe, você entende? E é por isso que a todo momento me respondo essa pergunta. E só consigo responder a partir do amor, sabe? Onde está o amor na vida que você tá levando agora, mãe? Você diz que faz isso tudo pelo amor que sente por nós, mas não tá dando certo. Há uma infelicidade pairando em nossa casa...<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-40447812908536543692012-05-18T16:45:00.000-07:002012-05-18T16:52:28.410-07:00Ideias soltasFelicidade, que gosto tem essa palavra? Gosto de riso de criança, de chuva caindo no telhado, de ver filme de mão dada? Ou gosto de vermelhidão profunda, de parto, de Elis cantando com voz rasgada? <br />
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Vim aqui nesse blog escrever pra poder inventar frases que me trazem felicidade só de eu dizê-las. Assim, da mesma felicidade que Milton me traz quando eu escuto ele cantar aquela música "Tudo o que você devia ser", ou qualquer música de Clube da Esquina. Parece que é mesmo uma especialidade desses mineiros, né, cantarem de mansinho, e conquistarem um canto no coração da gente. <br />
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Mas voltemos às palavras... Elas podem fazer a gente feliz, é só inventá-las do modo certo. Pra quê ficar inventando nome feio, que traz dor? Eu mesma, no meu blog, que é meu, só escrevo arco-íris, algodão-doce e musica de pir lim pim pim. "Mas Maria, isso aí é tão doce que chega enjoa só de pensar", vocês devem estar aí querendo me dizer.Tá certo, uma eu em mim diz isso, mas a outra sabe que uma vermelhidão às vezes também é boa.<br />
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Agora meu cachorrinho passou, trouxe na boca um osso que achou no quintal. As pessoas imaginam que os cachorros fazem isso simplesmente porque querem comer. Ledo engano.. os cachorros, minha gente, têm o osso como um tesouro, um objeto de afeto, assim como a gente guarda a jóia da vovó naquele porta-jóias antigo. (Se bem que eu acho que ninguém na vida real faz isso, só nos filmes, mas imaginemos que elas fazem..) Assim, os cachorrinhos guardam esses ossos como guardamos nosso álbum de retratos, toda a memória deles, tudo que eles possuem estão ali, nas dentadas marcadas no osso. Cada dentada, um fato de suas vidas: o dia em que sua dona chegou de vestido vermelho balançante, o dia em que ganhou um pedacinho de bolo de rolo, o dia em que lambeu as partes de Dorotéia quando ela tava no cio... O mesmo acontece com o novelo de lã dos gatos, mas não vou entrar em detalhes, é só vocês usarem as mesmas regras dos cachorros.<br />
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Aí eu volto pra cá, me vejo escrevendo palavras mais uma vez, já que nada disso aconteceu de fato, mas será que o fato de eu estar aqui escrevendo é real? Que mãos são essas que, por hora, teclam? Estão comandadas por quem? A pergunta do quem sou eu é insolúvel, todos sabemos. Então, quem vos escreve é um buraco negro, um vazio branco de pensamentos soltos e alheios. Tem um autor que diz que as ideias vêm de uma fonte no mais profundo de nós mesmos. Então é isso, há apenas essa fonte, imagino uma fonte de água, sediada no nada, de onde brotam palavras e imagens. A água é límpida na origem mas vai ficando cada vez mais turva, cada vez mais turva, cada vez mais turva...<br />
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Sentir. Só sentir. Sem racionalizar. Você consegue? Sentir a energia fluir no seu corpo, viver sendo levado pelo corpo, comer o que o corpo pedir, namorar quem o corpo quer.. <br />
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Afeto. Será que o segredo da vida é viver pelo afeto? Se eu consigo viver sem afetar ninguém e sem me afetar, faz sentido?Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-43527290107695698912012-02-28T18:04:00.000-08:002012-12-27T18:05:22.704-08:00Retiro logo: paz, encontro, leveza. Ir com Caio ouvindo Rômulo Fróes, sendo alegre. Caio desperta a alegria dentro de mim. Felicidade.<br />
Alexandre fala tim tim por tim tim do meu trabalho, passo a enxergar um trabalho ali, fico feliz.<br />
Têm ratos no sofá, temor.<br />
Será que sou muito açucarada? Devo ser. O açúcar me atrai mesmo. Fazer o quê? Na próxima encarnação venho como menina má, nessa não. Mas também não sou lá nenhuma flor, só engano.<br />
Ele me desperta a escrita, gosto de conversar com ele. Mas não posso mais. Aí volto a conversar comigo mesma. Será que sinto o mesmo prazer? Tento.<br />
Medo de se entregar, medo de se magoar. Mas vontade, de se apaixonar.<br />
Trombone com pianinho, trombone com pianinho<br />
Será que vai dar tudo certo? Nunca tudo está certo, nem nunca ficará. Mas agora até que está.<br />
Ele não foi, ele não foi. Agora não quero mais saber. Ele sabe se cuidar, ou não.<br />
Praia, água, música, vento, beijo. Huuum.<br />
Dançar, rodopiar, sentir o vento bater no rosto, o cabelo voar sem se preocupar.<br />
Vida.<br />
Vida.<br />
É.<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-65258810957945698072012-01-30T18:44:00.000-08:002012-06-25T22:29:29.271-07:00Será que as luzes que se acendem nas janelas acendem por dentro também das pessoas? <br />
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O que se acendia em Antônia era o seu desejo de, finalmente, comprar um colchão novo.Em Janaína, brotava um desejo de encontrar um amor. Já em Antônio, nascia uma luzinha que ele não sabia bem explicar o que era... parecia um vaga-lume. Ela piscava igualzinho aos pisca-piscas que ele tanto via nessa época do ano. Piscava sempre que ele tinha uma descoberta. Outro dia foi quando ele viu uma formiguinha andar na grama carregando um pedaço de comida, ele ficou tão surpreso, como ia caber aquilo tudo no bucho dela? Teve outro dia também que a luzinha se acendeu quando ele viu uma borboleta voar. Ele ficou reparando em todas as cores que, de repente, surgiam nas asas dela. Achou muito bonito de ver. Mas a luz piscou mesmo foi quando ele viu, furtivamente, a calcinha de Júlia naquele dia ensolarado. Achou linda, ficava imaginando sentir o tecido de algodão em sua pele...<br />
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E assim a vida ia seguindo, cada um com sua luzinha: Juca, quando ganhava um osso; Zeca, com um prato de leite; a mosca, com o pão da padaria, o mosquito, com o sangue da perna da moça, o passarinho com a minhoca, a minhoca com a terra... E assim se cumpria o ciclo da vida. Num era Natal nem nada, era só a vida seguindo, e as luzinhas apagando e acendendo, apagando e acendendo...Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-53641353020190826232011-09-03T13:36:00.000-07:002011-09-03T13:45:08.815-07:00Preciso ir gritar numa floresta,
<br />tomar coalhada numa fazenda que não existe mais,
<br /> deitar num céu calmo,
<br />sentir as estrelas fazerem sua sombra em mim, tocá-las, senti-las entrando no meu corpo.
<br />Preciso me sacudir,
<br />vomitar as estrelas depois pra me sentir limpa e luminosa,
<br /> pra só então sentar numa calçada e coçar a cabeça de um gato
<br />e as estrelas voltarem a sair das minhas mãos outra vez.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-86676067088378932132010-11-23T12:00:00.000-08:002010-11-23T12:24:25.118-08:00Janaína escutou uma amiga dizer uma frase que muito lhe fez rir, disse ela "cansei de ser profunda". Ela se riu porque há muito tinha tomado a mesma decisão, desistiu da carreira acadêmica, das discussões filosóficas, das buscas pelo sentido último de todas as coisas e decidiu que não queria mais fazer outra coisa senão sentar-se em seu quintal e bordar. Vez por outra, alisar a cabeça da sua gatinha aqui, escutar um canto de passarinho acolá e nada mais. Tinha cansado de buscar explicações pra entender seus sentimentos, autoconhecimento, o quê? Ela se conhecia muito bem e sabia que quem ficava procurando isso estava na verdade era inventando sempre um eu diferente, criando eus eternamente. Quanto mais ficavam a questionar o que sentiam, indo pra milhões de terapeutas, estavam era criando sentimentos e inventando sofrimentos sem fim. Ela passou tanto por isso que cansou. Agora tudo era muito simples, o caminhão do lixo passava na hora certa, o leiteiro também, a flor que ela tinha plantando com carinho nascia quando tinha que nascer, tudo estava certo. Agora entendia o que os poetas queriam dizer quando falavam na simplicidade. Era isso sim, a vida era muito fácil de viver, esses filósofos é que teimam em complicar. Então fico com os poetas.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-5390463772676366282010-07-03T16:02:00.000-07:002010-07-03T16:03:54.505-07:00Clarice gostava dos acentos, achava eles dignos. Sempre que escrevia com a caneta de tinta que seu pai lhe dera, sentia um prazer enorme em colocá-los. Como o sentem certos velhos ao assinar o contrato de compra de seu caixão, marrom, de estofado de veludo vinho, com um crucifixo dourado brilhante na frente. Enroscam um pouco o bigode grisalho e emitem um sorriso de canto de boca que suas netas sabem bem, trata-se de orgulho. Não, não iam viver suas vidas no sofá da casa de sua filha mais velha, economizando sua aposentadoria, pra acabar num caixão qualquer pago por aquela que lhe sustentou nos últimos anos. Assim, Clarice passava as tardes, escrevendo, falando de amores. Ela se sentia uma típica mulher, todas elas gostam de falar de amor. Acho que quando Deus inventou a mulher foi justamente pra acrescentar o elemento amor na vida. Aí veio o homem, pra trazer um pouco de distúrbio pra esse sentimento.Era bem isso que Clarice pensava quando se lembrava do romance recente do seu cachorro Juca com a cachorra da vizinha, que estava no cio. Dava dó ver o cachorro esmolando um pouco de amor, passando noites insone, a uivar, a latir. Qual não era sua felicidade quando via ao menos a patinha de Doralice pela fresta da porta. Sacodia o rabinho feliz, e passava ao menos essa tarde com um risinho no rosto. Clarice dizia isso, mas no fundo não falava de Juca, mas dela própria, afinal era só levar Juca pra passear no parque pra ele esquecer Doralice, balançava o rabinho, levantava a patinha em cada banco, corria feliz, latia para as crianças. Assim, aquilo que Clarice achava de Juca estava impregnado era na sua percepção das coisas. Via Juca pela sua própria lente distorcida. Mas ela não sabia disso. Então deixa ela se enganar, pelo menos ela não sofre pelo seu próprio amor, sofre apenas de pena do cachorro. E continuava ela, arrumando maneiras de trazer pequenas felicidades para o cão, para que ele esquecesse sua dor, fazendo assim, sem saber, ela própria esquecer da sua. Juca sabia disso tudo e maliciosamente, para que a dona lhe ajudasse, fingia estar amando, quando na verdade queria apenas trepar com a cachorra que ele achava uma bela de uma gostosa.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-30613414805303838852010-06-24T10:19:00.000-07:002010-07-03T16:00:03.616-07:00Pra eles<span style="font-weight:bold;">Para Sandokan:</span><br /><br /> Ele chegou caladinho caladinho, num sabia nem onde colocar as mãos, todo acabrunhado. Num sabia ele, mas dentro dele tinha uma sementinha, que era só levar um pouquinho de sol começava a crescer e crescer até que não conseguisse ficar dentro dele e saísse.<br /><br /> Um dia ele encontrou um objeto e se identificou muito com ele, era fechadinho, mas se a gente apertasse num botãozinho o que tava dentro saía e era muito bonito. Esse aparelho tinha um olho grande e tinha mania de engolir as coisas bonitas e transformá-las num papel. <br /><br /> Quando Sandokan descobriu esse segredo foi no mesmo dia que a semente tinha germinado tanto dentro dele que, ele próprio conseguiu transformar em papéis tudo aquilo que ele sentia e que tava preso. Agora ele num era mais calado, nem acabrunhado, ele começou a falar pra todo mundo daquela beleza que ele via nas coisas.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">Para Monick e Nielly:</span><br /><br />Um dia eu tava andando pelo Coque e quando reparei tinham duas florzinhas nascendo, iguaizinhas, só que uma era vermelha e a outra amarela. A vermelha era Monick. Flor-mulher, séria e firme, quer e consegue. Ela tem as pétalas de veludo e um miolo cheio de amor. A amarela era Nielly, eita flor doida danada!! Ela é tão espevitada que as vezes a gente num percebe que ela ta ali fazendo toda aquela festa, mas que também tem muito amor guardado. Suas pétalas são amarelo brilhante que dói no olho só de ver. Amo as duas no mesmo vasinho do meu coração, elas tão lá, uma do ladinho da outra, lindas. E hoje, mais uma pétala nasce pras duas. Desejo que uma água muito pura regue vocês todos os dias e um sol muito forte dê muita energia pra vocês continuarem crescendo assim.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">Para Jô:</span><br /><br /> Quando eu encontrei pela primeira vez com Jô ela tava toda encolhidinha, encostada numa pedra. Eu vi tanta fragilidade naquela menininha, que não tinha nem 10 anos ainda. Mas eu podia ver também uma doçura imensa, que só podia sair de um coração bom. Aproximei-me da criança e lhe contei todas as histórias que eu podia lembrar, as aventuras mais incríveis, os romances mais tórridos. Ela adorava, viajava junto, sonhava, dava tantas gargalhadas. Mas cada vez que se lembrava de sua tristeza caía no choro outra vez.<br /><br /> Então mudei de tática, pedi que ela me contasse qual o motivo de suas lágrimas. Só que Jô não sabia me dizer. Ela sabia apenas que se tratava de algo que doía muito seu coração, que mexia lá fundo. Ela me disse que antes sabia sim qual era o motivo, mas que depois de ouvir tantas histórias, tinha esquecido. Não conseguia mais lembrar, por mais que se esforçasse. Então eu disse, mas Jô, será que o teu coração está doendo mesmo? Isso já aconteceu comigo uma vez quando eu era da tua idade. Eu tava sentindo uma tristeza muito grande e não sabia o que era, só sabia que alguma coisa lá dentro mexia muito, me deixava inquieta. Contei a minha mãe. Ela riu e me explicou: “Filha, isso se trata do amor. O amor é como uma lagarta. Você já viu a transformação que a lagarta passa pra se transformar em borboleta?”. Quando minha mãe disse isso eu sorri. Achei engraçado pensar que ia nascer uma borboleta no meu coração batendo as asinhas. Ai comecei a imaginar de que cor eu queria a minha borboleta. Ela ia ser muito bonita, muito vistosa, chega ia doer o olho de ver a luminosidade dela. E foi assim que eu esqueci a dor que eu tava sentindo. Esqueci da dor da transformação da lagarta que queria se tornar borboleta, e fiquei alegre de pensar no futuro, de saber que eu tenho uma borboletinha dentro de mim querendo bater asas. Esse foi um ensinamento que eu guardo até hoje. Sempre que meu coração está doendo eu me tranqüilizo, porque hoje eu sei que é só uma fase, que logo a borboleta dentro de mim vai voltar a voar. <br /><br /> Quando terminei de contar isso a Jô olhei e ela tinha adormecido. Mas dormia sorrindo, com certeza sonhando com sua borboleta. Notei que saía dela uma luz rosa muito pura, era a luz do amor se purificando. Então fui embora tranqüila. Sabia que quando Jô acordasse a dor teria ido embora, ela nem mais se lembraria dela. Então ela voltaria a ser a criança serena de antes, que colhia flores coloridas todos os dias no jardim pra dar a sua mãe e que brincava alegre com o irmão rolando no chão de tanto rir.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-82333815881241884712010-06-10T17:37:00.000-07:002010-06-10T17:47:03.429-07:00Ela me abraça séria, profunda, num faz a mesma festa dos demais. Só de ver o rosto dela tenho vontade de chorar. Chorar de sentir quanto sentimento tem ali. Tenho vontade de abraçá-la bem forte. Mas ela é tão magrinha que pode se partir ao meio...Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-24526950300494128972010-05-24T19:01:00.001-07:002010-05-24T19:02:29.485-07:00E se Clarice me dissesse<br />O que tu não me disse?<br />E eu risse e pensasse que tu não me disse por tolice?<br />Aí eu ia dormir feliz com o sentimento que ela me traz, em paz<br />Lá no fundinho de mim ia ter um pocinho de água bem limpinha<br />Que ia lavar as dúvidas e me deixar que nem as roupas brancas das lavadeiras la de Jabitacá<br />Bem reluzentezinha e ia mimbora pro céu e nunca mais ia voltar <br />Pra num me aperrear.<br />E foi assim.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-57611896343330949922010-05-13T20:26:00.001-07:002010-05-13T20:26:36.084-07:00Tinham dias que ela acordava, colocava um batom vermelho e saía. Esses eram os dias em que ela queria ser outra. Pensava no que ela nunca faria e fazia exatamente essas coisas. É certo que existia uma limite pra isso. Nunca sairia de um jeito que acharia ridículo. Ser outra não era sinônimo disso. Mas gostava de ver a vida assim, cada dia por um ângulo novo. Num dia construía todas as certezas do mundo, só pra ter o prazer de destruí-las todinhas, uma a uma, no outro dia. Isso a fazia crescer. Perceber que nada existia, que nada era de um jeito só, e ao mesmo tempo que tudo podia ser. Só tentava amadurecer a tal ponto que não se decepcionasse quando suas certezas anteoriores ruissem. Queria ser assim, uma pessoa que não se afeta com essas coisas. Uma pessoa que só se afeta na medida certinha, nem demais, nem de menos. E isso era tão difícil pra ela, logo ela que se afetava com quase tudo, um poço carregado de água, que era arrastada pelas emoções. Então, cada vez que conseguia segurar o choro era uma vitória, se achava forte que só. Mas ao mesmo tempo ela gostava tanto de chorar, parece que ela se sentia mais viva nesses momentos, sentia a dor tomar todo seu corpo e sair, como uma catarse, naquelas lágrimas. Daquela vez ela chorou assim de propósito, como que para tirar tudo de ruim que tinha dentro dela, como se estivesse parindo algo, se encurvava toda, e aquilo saía de seu ventre e caía nas lágrimas, e saía no som. Mas quando ela conseguia segurar um choro também era muito bom. Porque lhe dava uma firmeza pra agir no mundo, mesmo ele sendo tão difícil. Ela ficava corajosa e acreditava que ia conseguir. Pode ser que esse seja um dilema que irá perpassar toda a sua vida. As pessoas fortes não caem em pranto por qualquer coisa. Ao mesmo tempo, as pessoas que nunca choram parecem tão duras, como se não existisse sensibilidade ali. <br />Mas no fim das contas, o que estava presente agora era a alegria, alegria do fogo, do entusiasmo, de ver muita energia nas pessoas e essa energia ir lhe contagiando. Ser alegre é tão bom! Mas sabia que também aí tinha que ter calma, afinal, essa alegria tinha que brotar de dentro dela, ela não podia ficar dependente da energia alheia. Mas também era muito difícil se controlar, afinal tudo acontecia ao mesmo tempo, idéias empolgantes de um lado, um “não sei porque, mas te amo tanto” de outro lado. Ah, assim ela não agüentava, não podia não amolecer!Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-40372951946495867612010-04-25T15:06:00.000-07:002010-04-25T16:46:54.187-07:00Assim como a gataTodas as noites, quando a mãe lhe dizia "Filha, vá descer com o cachorro", ela fazia muxoxo mas descia. Ela não sabia o porquê da contrariedade se na verdade ela gostava muito de estar lá embaixo com Juca, era o único momento em que vivia realmente o lugar em que morava. Em que aquele lugar não era mais um lugar de passagem para entrada no seu quadrado fechado, no seu teto. Janaína sempre teve essa sensação, a de que o homem constrói quadrados pra se esconder dentro. E esse lugar fechado a sufoca, a impede de estar com o mundo, com o céu, com o ar livre. Parava pra pensar mesmo em como era tudo tão louco, as invenções humanas, se resfria ar, se condensa o ar em pequenos focos pra perceber a existência dele... Ela gostava mesmo era de sentir brisa. Tá certo, tinha uma invenção humana que ela gostava muito, era o vento que o carro consegue deixar tão fortemente bater no nosso rosto, assanhar nosso cabelo. É tão intensa a forma que ele nos toca nessa situação. Fora a forma de se ver a paisagem bem rápido, conseguindo apreciar tudo ao mesmo tempo, tudo que só a vista não alcança. O homem tem muitas invenções bonitas sim, pra num falar das câmeras... de vídeo, de fotografia. E ela ria de pensar essas coisas. Mas tudo pra dizer o quanto gostava de estar lá embaixo, deitada num banquinho frio de cimento, com os pés na grama, sentindo um ventinho, escutando-o balançar as folhas, com os olhos no céu e as mãos na gata, sua fiel companheira desses momentos. Enquanto Juca rebolava o bumbum andando, ou dava pulinhos, de orelha balançante, cheirando aqui e ali, fazendo xixi aqui e ali não percebia que as mãos de Janaína tocavam era a gata. Não se sabe quem acariciava quem, se Janaína à gata, se a gata à Janaína. Ela se roçava na garota com todo o corpo, esmolando carinho, enquanto a menina adorava olhar o céu e sentir aquele pelo macio, ir passando a mão pelas costelas da gata, pelas orelhas, arrodear a cabeça. Janaína se achava parecida com a gata, se pudesse trocar não teria mais um cachorro. Sua personalidade tinha muito mais a semelhança vagarosa e libertária da gata do que a serelepe e dependente de Juca... Olhar o céu era limpar a vista e se aquietar por inteira. Janaína tinha a sensação de não só estar olhando-o, como se faz com uma televisão, mas de adentrá-lo, como aqueles personagens que entram na tela. Era bem isso que sentia. Na verdade era essa a sensação que Janaína sentia com o mundo de forma geral. Ela estava sempre experienciando-o com seus sentidos todos. Por isso que muitas vezes a menina ficava muda, porque não conseguia dizer nada, racionalizar, esse era um momento posterior, antes ela só conseguia entrar e viver, e sentir. Depois é que ela podia realizar a suspensão e refletir sobre o momento. As duas coisas não podiam ser feitas ao mesmo tempo. Por isso ficava muito impressionada com alguns amigos que tinham a capacidade de viver os momentos ao mesmo tempo em que os objetivavam em palavras de maneira articulada e sistemática. O máximo que ela conseguia fazer era balbuciar algumas palavras que expressavam mais sentimentos que pensamentos. E ficava pensando se sempre seria assim, um pouco preocupada, já que isso a impedia de se relacionar às vezes, quer dizer, vamos ser sinceros, muitas vezes, a majoritária parte das vezes. E se encontrar com os outros era muito importante pra ela, por isso o dilema. Ela não conseguia viver sozinha com seu mundo, afinal a beleza de tudo era mais real com as outras pessoas, era uma escolha até política dela. Não, não queria ser só. Mas ao mesmo tempo como fazer se não conseguia ser sociável? O máximo que conseguia socializar era com os amigos que já tinha. E pra entrar mais um que seja no seu círculo de amigos era tão complicado que essa pessoa teria que ter muita paciência, já que ela era lenta com uma gata. Primeiro ela olhava bem, observava, tinha que se sentir segura. Até ela se sentir em casa ao ponto de ser natural era todo um processo. Por isso que tinha poucos amigos, afinal, haja paciência. Muitos que ela conhecia, por não terem a mesma velocidade que ela, achavam que ela não estava aberta e pronto iam se embora. Uma vez lhe disseram que ela parecia um “monólito” ou palavra parecida, que ela entendeu como uma rocha difícil de acessar. Pois era assim mesmo que ela se sentia. Porém, era o extremo oposto quando chegava o ponto de se sentir em casa, aí era sentimental até dizer basta. Adorava falar pros amigos que os amava, porque sentia um carinho tão forte por eles, um afeto. Essa é uma palavra boa, porque lembra calor, um calor que se sente por dentro, o mesmo de deitar numa cama bem quentinha em dia frio, com a cabeça num travesseiro bem fofinho. Era essa mesma sensação que tinha ao olhar os amigos sentia o calor que o afeto dá. Mas as vezes também, aí pode ser que seja o afeto já transformado em paixão, sentia uma pontadinha no peito, que lhe trazia um riso no rosto de felicidade das mais intensas, no sentido literal, porque parecia que via lá do fundinho de seu ser, é como se conseguisse acessar algo bem lá dentro. E essa sensação trazia felicidade. Mas às vezes trazia medo também, acho que o medo vem justamente da sensação de não querer perder aquilo. Então, olhar pro céu acalmava e trazia uma paz que fazia ela esquecer dessas coisas. E de tantas outras que a perturbavam. Eram doses homeopáticas da calma e da serenidade do céu o que ela tomava todos os dias pra conseguir ir vivendo, assim como a gata, que não pensava em nada disso, mas que Janaína sabia que compartilhava do mesmo motivo de estar ali.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-28709017902485522022010-04-13T16:34:00.000-07:002010-04-25T16:45:05.088-07:00Tenho a sensação de estar amarrada, de querer muito agir, com todas as minhas forças, mas existe alguma coisa que me paralisa. Parece que esse mesmo algo me impede de me fundir com o todo, isso, a minha vontade é essa, de me fundirUnknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-27915262591463957752010-04-13T16:25:00.000-07:002010-04-25T16:42:07.278-07:00Na sala, enquanto os outros cospem palavras sem nenhum sentido, palavras secas, mudas, ela não consegue escutá-las. Descobriu que não consegue mais se comunicar dessa maneira, agora só entende aquilo que a faz sentir, aquilo que toca sua pele e que a faz a todo instante ser já ontem. Descobriu que o caminho dos seus ouvidos passa por toda a superfície do seu corpo, pra depois penetrá-la por inteiro. Não ouve mais só com esse orifício, seu corpo todo agora se comunica.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-91753057948280147682010-03-21T17:04:00.000-07:002010-03-21T17:08:18.568-07:00Descobri que não amo os homens, <br />Mas, a literatura, acima de tudo.<br />Fui enganada até agora. <br />Eles se disfarçavam de literatura e me encantavam.<br />Ou, eu, disfarçava as histórias a tal ponto que me enredava na trama que criava<br />Acreditava tanto na história que tinha imaginado que não conseguia mais perceber que era ficção<br />Hoje sei.<br />Não amo os homens.<br />Amo a literatura<br />Mas, claro que se ele me fizer sentir do mesmo modo que Pessoa me faz,<br />Sim, darei uma chance a esse homem.<br />Mesmo já sabendo qual o verdadeiro motivo desse amor.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-20863344286558097282009-10-12T09:45:00.000-07:002009-10-12T09:47:48.457-07:00"Algo que faz sentido, dá o gosto de viver uma vida humana, desperta o desejo de ultrapassar, aponta para a sede de aprender, de compreender, de contemplar".Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-45183691868606713062009-09-13T21:14:00.000-07:002009-09-14T10:23:01.418-07:00O encanto de Val<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS5xSTmBv2KOw5Rc5adPAXW4h7sXJ672vj7Shw3Dyx0q_apTt8r5n9skOQmX2yg6luoXh2GtLvxLWoxsy6QqloydGZBFJNJ5jjAkD2P6l40NQBsIupnEMa3SrY6rxogvvITP6g/s1600-h/menina_esperan%25C3%25A7a.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 249px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS5xSTmBv2KOw5Rc5adPAXW4h7sXJ672vj7Shw3Dyx0q_apTt8r5n9skOQmX2yg6luoXh2GtLvxLWoxsy6QqloydGZBFJNJ5jjAkD2P6l40NQBsIupnEMa3SrY6rxogvvITP6g/s320/menina_esperan%25C3%25A7a.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5381374856287965234" /></a><br />Um dia Helena estava lavando os pratos, cantarolando baixinho, quando olhou pela janela viu que no jardim tinha nascido uma florzinha lilás. Ela nunca tinha visto flor igual, era pequena e tinha as pétalas bem delicadas, era só encostar um pouquinho o dedo pra sentir a maciez. Foi nessa hora que Helena soube que estava esperando Val. Ela sempre teve certeza que quando brotasse uma sementinha dentro dela, ela receberia algum sinal. E foi assim. <br /><br />À medida que Helena sentia a criança crescer dentro dela, ela sentia uma força tão grande de viver! Aquele bebê era a maior força vital que ela já havia sentido. Não havia maneira de ser mais feliz. Não imaginava ela o que sentiria quando Val nascesse, ela tinha até medo desse momento, medo de não poder mais abrigar seu filhotinho de todos os perigos. Nessas horas se sentia mesmo como aquela galinha mãe, que quer os pintinhos debaixo das asas. E mais do que isso, ela não conseguia pensar em como seria viver só, a partir de então, como não abrigar mais o outro ser dentro de si, como tornar-se independente de novo...<br /><br /> Mas, quando Val nasceu, Helena e Pacheco, seu marido, descobriram que a felicidade ainda podia ser maior do que aquilo que sentiram nos nove meses de gestação. Ela se expandia dentro deles cada vez que olhavam praqueles olhinhos puxadinhos e bochechinhas salientes. Cada gritinho que a menina dava fazia essa imensidão de amor crescer mais e mais.<br /><br />E foi na terra fértil desse amor tão grande que Val foi gerada. E como não podia ser diferente, esse amor também fazia parte do próprio ser da menina. Ela não conseguia viver sem amar, pra ela as duas palavras eram sinônimos. Assim, quando Val estava brincando com suas panelinhas no quintal, cozinhando pra todos os bichinhos que estivessem por perto, ela queria mesmo era fazer todos eles felizes. Ficava toda alegre ao imaginar que a lagarta tinha engordado muitas gramas com a sopa de papoula que ela tinha preparado. E o sapo então? Tava gordinho, gordinho de tanto beber suco de folha amassada! Também achava linda a chuva, se emocionava com os pingos caindo na terra, fazendo as florzinhas crescerem robustas.<br /><br /> Ela sempre queria dar um jeitinho de ajudar a natureza a seguir seu rumo que ela tanto admirava. Assim, quando descobriu que as abelhas produziam o mel do néctar que retiravam das flores, tratou de plantar muitas delas. Todos os dias plantava uma de cor diferente, porque, para ela, as abelhas seriam muito mais felizes produzindo mel de tonalidades diferentes. Outra vez ela até roubou os sapatinhos de sua boneca, e queria porque queria, calçar a centopéia. Imaginava como devia ser tão difícil andar com tantos pés por aí descalça.. e se ela pegasse uma gripe? <br /><br />Val era bem quietinha e observadora. Ela não sabia, mas guardava em seus cachinhos aquilo que ia recolhendo das pessoas. Um jeito especial de um falar, a risada singular de outro, a maneira de andar e gesticular de outro. Tudo que Val percebia ficava registrado nos seus caracoizinhos. E eles cresciam mais e mais à medida que a menina ia ficando mais velha.<br /><br /> Um dia, Val não sabia por que, ela tinha acordado com uma sensação de vazio, algo lhe faltava. Quando viu tinha uma mechinha de seu cabelo no chão: era o jeito de dançar engraçado de uma senhora gorda que ela vira certa vez. Val ficou muito intrigada sem saber direito o que tinha feito seu cabelo cair. E todos os dias, daí por diante, o fato se repetiu. Aos poucos Val foi perdendo todos os seus cachinhos. E ao passo que os perdia, uma sensação ia tomando conta dela. Ela começou a enxergar ao mundo e a si mesma de uma maneira diferente. Se olhava no espelho e não se reconhecia mais, não sabia quem era aquela. Seu rosto estava mais afilado, seus cabelos mais estirados, o corpo tinha tomado outras formas. Não sabia mais quem era, mas, ao mesmo tempo, sentia que estava renascendo mais verdadeira, mais ela. Agora ia descobrindo sua própria maneira de ser, seus gestos, maneira de rir, de andar e de falar. Seus passos eram mais firmes. Val tinha, enfim, se tornado ela própria, tinha amadurecido. <br /><br />Mas, ao contrário do que se pensa, isso não quer dizer que ela fosse deixar de ser aquela menina que cuidava com tanto afinco dos animaizinhos e plantas de seu jardim. Agora se dedicava mais ainda. Achava um absurdo tratar os outros seres com desrespeito. Só comeria plantas, e os bichinhos que criava seriam somente seus amigos. Vez por outra, se via ela, no jardim, brigando com um ou outro bicho que contrariasse a liberdade dos demais. Val se preocupava tanto com o bem estar de sua horta que quebrava a cabeça tentando equacionar a cadeia alimentar de forma que a harmonia fosse sempre restabelecida, quando a natureza assim não o fizesse sozinha. É.. os cachinhos tinham ido embora, mas a mania da menina de dar um empurrãozinho no meio ambiente continuava. Já depois de grande, as principais preocupações de Val eram como desviar um corregozinho que atrapalhava a passagem diária das formigas, como fazer com que a água da chuva regasse por igual todas as plantas. Ela tinha até criado um orfanato de insetos, cada dia achava um novo filhote solitário para cuidar. A pena maior que ela tinha era daqueles que viviam pouco naturalmente. Por esses não podia fazer nada, somente os mantras diários que ela recitava por sua morte. <br /><br />Por ser assim desse jeito, o grande problema que Val tinha era o de saber como se encaixaria num mundo tão diferente dela. Ela olhava ao seu redor e não conseguia entender nada. O fato de que algumas pessoas só se movimentavam no mundo em troca de outra coisa, que não o amor, deixava a menina muito confusa. Não conseguia entender o que acontecia no mundo, porque as pessoas não se preocupavam com as outras nem com a natureza, que lhe era tão cara. Como alguém podia pisar na grama? Arrancar uma flor? Bater num gatinho? Prender um passarinho numa gaiola? Nada disso fazia o mínimo sentido para ela. E cada vez que ouvia uma notícia dessas a menina chorava tanto que enchia os reservatórios de água de que sua hortinha precisava por um mês. (Até na hora de chorar ela conseguia trazer algum benefício aos seres!). <br /><br />Val passou muito tempo tentando entender o motivo dessas coisas porque para ela não era suficiente cuidar somente do seu jardim. Ela não conseguia viver em paz enquanto soubesse que outros jardins não estariam a salvo. Então, pensou num jeito de propagar suas idéias, de expandir aos quatro ventos o amor que sentia pelas coisas do mundo, mas não conseguiu pensar em nada. Foi quando Val adormeceu que uma mágica se fez. A partir de então, mesmo dormindo, Val subia na colina mais alta das redondezas e emitia os sons mais bonitos que já se tinha ouvido. Também dormindo, os homens começavam a sonhar com coisas muito belas e acordavam com vontade de calçar centopéias, ajudar formigar e abelhas. Até hoje o som de Val ecoa mesmo sem ninguém saber, mesmo sem ela própria saber. É um som que sai direto do coração dela praqueles corações mais endurecidos. E ele tem um encanto que ninguém consegue explicar nem entender, só sentir.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38454390.post-19789593799891803432009-08-17T10:03:00.000-07:002009-08-17T10:10:26.060-07:00Janaína tava andando, com aquele vestidinho de algodão, leve, que deixava o vento tocar seu corpo e ia sentindo o sol quentinho lhe aquecer. Fazia tanto tempo que ela não sentia essa sensação de que o sol existe. Tinha ficado muito tempo em casa, por isso passou esse tempo triste. O sol lhe trazia a sensação de que a alegria existe, e ia preenchendo ela, e fazia ela se mover com mais vontade. O mundo parecia muito bonito nesses dias, o ônibus tava cheio porque todo mundo queria ir pra praia. Era tão bom ir pra praia! Ela lembrava quando era ela que fazia isso com as amigas. Passar o dia lá, tomando sol, sentindo a brisinha, conversando, tomando banho! E era de graça, por isso que era o passatempo predileto de tanta gente. O céu tava bem azulzinho, as nuvens bem desenhadinhas, em floquinhos. Ela começou a sentir a alegria de novo, tinha esquecido que ela existia, naqueles tempos de melancolia chuvosa, de só perceber tristeza nos rostos. Agora ela cantava com força e sorria, e dizia que queria se consumir como uma vela, era essa mesmo a sensação que ela tinha, ela sumia e sobrava luz. Ela voltou a lembrar também de quem ela era, lembrou que gostava muito de literatura, mas ao mesmo tempo sofria com isso, porque ela fazia com que ela só se sentisse feliz ou quando tava lendo ou escrevendo... e não sabia como resolver esse impasse.. Ultimamente também ela tava percebendo mais do que nunca a fluidez do mundo, tudo é aberto e você vai construindo. As pessoas é que estão muito acostumadas em ir pelo caminho mais fácil, de se inserir em caixinhas. Mas ela estava num caminho sem volta, a partir do momento que percebeu a existência das caixinhas não conseguia mais entrar em nenhuma delas. E isso a deixava meio perdida no mundo. Ao mesmo tempo que achava muito bonita a fluidez, a possibilidade de se construir aquilo que a gente quiser, também achava isso muito difícil, e não sabia se conseguiria. Aí pensava que seria muito mais fácil se ela nunca tivesse pensado em nada disso, viveria e pronto, como Alberto, sem pensar no porque das coisas. E ficava nessa dança, de querer entrar nesse mundo novo, cheio de mistério e de perceber como é difícil entrar nele.. Mas pelo menos agora se lembrava da existência da felicidade, isso ajudava um pouco.Unknownnoreply@blogger.com0