domingo, abril 05, 2009

Na praia.

Acordei lembrando do sonho que tive com duas meninas bem pequenininhas, lá do Coque, uma negrinha espevitada, dos olhos redondos e cabelo cacheadinho com xuquinha; e a outra galeguinha, de um sorriso lindo e bochechinhas salientes.

Elas ficavam subindo nas minhas costas, do mesmo jeito que fazem lá na biblioteca. É só você chegar lá e elas correm pra você te abraçando e dizendo “tia, tia”. Toda vez que me lembro da biblioteca elas duas são a primeira imagem que me vem, elas parecem ter muito carinho pra dar, passam o dia inteiro abraçadas em você se puderem.

Lembro um dia que a galeguinha olhou pra mim e disse: “Tia, se você num me der bombom num vou gostar de você mais não”, quem disse que isso aconteceu? Num dei o bombom (porque não tava na hora do lanche ainda) e ela continuou a me tratar do mesmo jeito nas outras vezes que fui à biblioteca!

É muito bonito perceber como ela tem crescido e aprendido coisas ali, acho que em grande parte com as outras crianças, parece uma criança grande! Esperta que só! Mas bem criança também, na hora de brincar de “estátua”, no olhar encantado pra uma simples cartolina voando! Num pode tocar uma batuque que ela ta lá se sacudindo. Linda, linda, a buchudinha!

Já a negrinha é uma menininha cheia de personalidade. É muito engraçado de ver, como ela tão novinha, tem tanta personalidade! Ela é meio despirocadinha. Lá na biblioteca, quando eu pedia pra os meninos fazerem alguma coisa complicada pra idade deles, eles ficavam pedindo pra eu fazer, dizendo que não sabiam. Mas ela não, ela fazia mesmo assim, mesmo sem saber! Admiro muito essa ousadia que ela parece ter pras coisas.

Então, tudo isso pra dizer que sonhei com as duas. Acordo, olho o sol e me dá uma vontade tão grande de ir pra praia! O dia tava com cara de praia. Ligo pras meninas e elas topam. Cheguei antes de todas, tô andando pelo calçadão de Boa Viagem e vejo, sentado no calçadão, um menino conhecido, ele me olhava também me reconhecendo, quando vi era um dos meninos da biblioteca! Fiquei alegre de vê-lo ali, me aproximei passei a mão na cabeça dele, dei um sorriso e ele “É a tia da biblioteca, olha!” –pra o irmãozinho menor dele.

O maiorzinho, esperto e um menino muito bom, que gosta de desenhar; o outro, lindo, olhinhos mel, redondinhos. Só me lembro dele com um macacãozinho azul que ele tava uma vez lá no Coque, parecia o macacão das “crianças perdidas” de Peter Pan.

Tavam os dois e uma menina galega, da qual eu não conseguia ver o rosto, já que ela tava toda torta, deitada, dormindo, com uma caixa de chiclete nas mãos. Os outros dois não pareciam preocupados em vender nada. Comiam biscoito e contavam umas moedas dizendo: “Eu quero dois moranguinhos e dois cafezinhos”. Aí o menor, dizia “Dá pra quê essas moedas?” O outro, mesmo pequeninho sabia fazer os cálculos, pensava um pouquinho e respondia: “Dois cafezinhos, dois moranguinhos e um big big”.

Na hora perguntei, sem entender nada do que eles tavam falando e espantada: “Vocês gostam de cafe?" Aí eles responderam que tavam falando de bombons!O maior, parecendo um adulto que cuidava do irmão, foi lá e comprou os confeitos e voltou com a mãozinha cheia, dando pro pequeno.

Nessa mesma hora, um homem, que estava sentado num quiosque, e vinha observando perguntou: “Você conhece eles?” Eu sorri como resposta e balancei a cabeça fazendo que sim, meio desconfiada, se ele tava me paquerando ou não. Então, ele comprou um salgado e uma coca pra cada um dos meninos. O maior, disse pro outro: “Ela deve tá com fome”, foi lá e cutucou a irmã, quase enfiando o salgado na boca dela. Foi uma coisa linda de se ver, o irmão, tão pequeninho cuidando da irmã maior. Ela, meio zonza, parecia fraca mesmo, percebeu a situação e foi até o homem, silenciosa, mas daquele jeito que se percebe que ela está pedindo. Parece até um jeito que se aprende com o tempo, que os meninos menores ainda não tinham. Então, ela conseguiu o lanche e foi lá comer junto com os outros.

Os meninos comiam, comiam, já estavam de bucho cheio, aquelas barriguinhas pequenininhas num pareciam caber uma lata inteira de coca-cola! O maior começou a brincar com o refrigerante , e a dizer que o mar é feito de guaraná!!!Só que o guaraná tava salgado, por isso que ele num bebia. Disse também que queria que a areia da praia fosse de guaraná, que se fosse ele ia lamber tudinho! Ele e o outro começaram a viajar na maionese, dizendo que num sei o quê tinha uma cabeça preta, e que na imaginação dele era uma cabeça de banana! Depois, as meninas chegaram e fomos para a areia, nos despedimos dos meninos e eles ficaram lá, esperando a mãe que tava vendendo amendoim.

Quando chegamos na areia quem estava lá?As duas meninas com quem sonhei!!!! Fui lá e dei um abraço bem bom nelas, e um beijo! As duas estavam com coisa na mão pra vender, e perguntavam se a gente queria comprar.

Senti algo tão ruim! Era uma situação tão diferente da que a gente tava acostumado a viver com elas! Na biblioteca, elas só dizem “tia” e abraçam. Ali, elas também fizeram isso, mas logo depois perguntavam se a gente tinha “dez”, se a gente queria comprar...

A galeguinha, apesar de também pedir, parecia mais livre disso, pedia num segundo e em outro estava sorrindo, parecendo ter esquecido mesmo do que pedira, parecia uma frase vazia que ela aprendeu a repetir “Me dá dez,” esticando a mãozinha encurvada.

Já, a negrinha parecia bem diferente ali, naquele ambiente, como se já tivesse introjetado a lógica adulta da responsabilidade. Corria pra lá e pra cá oferecendo seus chicletes, toda sujinha de areia. As pessoas achavam mais graça, do que queriam comprar.

Fiquei tão pensativa nesse dia, tanta coisa aconteceu assim, de repente. Um dia normal de praia tinha se transformado num encontro assim, que balança a gente, que faz pensar na vida, que deixa triste e feliz ao mesmo tempo. Triste pela situação de ver crianças tão pequenas vendendo, pedindo. E feliz pela inocência que criança tem, que é bonito de ver, pela imaginação solta, pela presença forte de vida que criança representa!

Um comentário:

Altiere Freitas disse...

uma palavra pra seus escritos:

Sensibilidade _


Ps: queria um tikinho. hehe..

:)