sábado, julho 28, 2007

Um dia Janaína tava assim sentada, com a mão no queixo e o braço escorado na perna quando pensou e viu tudo diferente. Ela se sentia mais real agora. Tava calada. Descubriu que na verdade era ela uma menina calada; que quando falava e gesticulava desarvoradamente tava tentando era fugir da Janaína séria e pensativa. Ela também descubrira os pontos e me disse pra encher esse texto deles. Vou fazer. Pode ser que a menina tenha assumido uma atitude mais resoluta. Então os pontos caem realmente bem. Isso quer dizer que ela, que antes era reticente, estava cada vez usando mais pontos. E não só o final, a exclamação também! Não é feia não viu seu Carreiro? É bem bonita! E animada! E viva!
Pois então. A menina estava assim: olhando a vida ir seguindo e vendo como é que se vive. Tentava parar de pensar em manuais e ir simplesmente vivendo. Tudo bem que era difícil. Nada acontecia mais como ela planejava. Por que antes, como ela achava que as coisas iam acontecer do jeito que ela pensava, ela acabava agindo do jeito que achava que era inevitável e as coisas acabavam mesmo acontecendo do jeito que ela pensava. Claro. Ela não deixava abertura pra vida acontecer! Quando aparecia o menor indício de que as coisas não iam dar certo a menina já dizia: Tá vendo! E ia embora deixando as coisas pra trás. Mas agora não. Agora ela deixa a vida acontecer pra ver o que é que vai dar. Desculpe Janaína mas agora tenho que voltar a usar as reticências...

sábado, julho 14, 2007

Ela tinha medo de escrever. Não sempre, mas especialmente naquele momento. Medo de que as palavras buscassem coisas tristes que tinham num buraquinho bem fundo; já que agora só serenidade boiava na sua superfície. Não. Não queria que nada disso voltasse. Então, não iria buscar nada lá fundo, mas apenas escrever sobre o agora. O agora era bom. O agora era bem novo pra Janaína. Ela não via mais graça no pirulito de cera, isso era pras crianças, que ainda amava. Janaína pensava cada vez mais em como seria sua vida futura. Pensara se não poderia apenas continuar se balançando na rede, com um pé do lado de fora sacudindinho, cantando Bethania e gritando e gritando. Ela estava na verdade fugindo, porque percebera que falar do futuro também trazia dor. E a rede ia e vinha. E ela pensava se a vida não era assim: um ir e vir; então, pra quê se preocupar com o futuro se a vida não era linear! ia e vinha, ia e vinha alegre a menina, com um sorriso ingênuo nos lábios. Vez por outra sentia um friozinho no pé. Era Juca... ela adorava o jeito que Juca lambia seu pé ou tirava seu pitó sem arrancar um fio de cabelo. Fazia uma cosquinha! As duas coisas na verdade faziam cosquinha. Mas o que a surpreendia mesmo era o fato do cachorro desamarrar tão delicadamente o seu cabelo! Ela olhava pra frente pra árvore e flores de cores bem fortes e achava tudo muito bonito, e comia um pedaço da goiaba, tão boa! e pensava que isso sim era vida!