domingo, maio 20, 2012

Carta à minha mãe

O amor não exige nada em troca, ele apenas se dá pelo prazer de se dar. Um dia, mãe, tu soubesse que esse amor existia. Mas por que tu esquecesse? Tu diz que sofreu muito, que já passou por muita coisa e por isso tu faz o que faz. Mas tu tá feliz agora, mãe? Olhe bem dentro de si mesma, veja se a cirurgia plástica, se o salão de beleza, se os sapatos e bolsas te fazem realmente feliz... Você tem uma coisa que eu admiro bastante, que é uma energia muito forte, que se recupera bem fácil. Você mesma sabe, você não consegue passar mais de um dia triste, tem uma alegria interna maior, tem um sol dentro de si, aquele mesmo sol que lá em Candeias você fazia questão de nos mostrar de manhãzinha. Isso é muito bonito, mãe. Mas tem algo em você que não anda nada bem, um estresse permanente, um achar que precisa fazer certas coisas quando você não precisa de nada disso! Mãe, foi você que me ensinou a ser assim como sou, a me sensibilizar com as injustiças desse mundo que a gente vive. Agora, você mesmo entrou nesse jogo, nessa trama, e nem mesmo percebe... Não, mãe, não quero chegar no fim da vida e me perguntar com tristeza “O que foi que fiz da minha vida?”. Eu não consigo, mãe, só consigo viver tendo certeza a todo momento que o que estou fazendo é certo. Chegam horas que os homens param e se perguntam o sentido disso tudo, quando nada mais parece fazer sentido. Eu vivo me perguntando isso, mãe, você entende? E é por isso que a todo momento me respondo essa pergunta. E só consigo responder a partir do amor, sabe? Onde está o amor na vida que você tá levando agora, mãe? Você diz que faz isso tudo pelo amor que sente por nós, mas não tá dando certo. Há uma infelicidade pairando em nossa casa...