sábado, julho 14, 2007

Ela tinha medo de escrever. Não sempre, mas especialmente naquele momento. Medo de que as palavras buscassem coisas tristes que tinham num buraquinho bem fundo; já que agora só serenidade boiava na sua superfície. Não. Não queria que nada disso voltasse. Então, não iria buscar nada lá fundo, mas apenas escrever sobre o agora. O agora era bom. O agora era bem novo pra Janaína. Ela não via mais graça no pirulito de cera, isso era pras crianças, que ainda amava. Janaína pensava cada vez mais em como seria sua vida futura. Pensara se não poderia apenas continuar se balançando na rede, com um pé do lado de fora sacudindinho, cantando Bethania e gritando e gritando. Ela estava na verdade fugindo, porque percebera que falar do futuro também trazia dor. E a rede ia e vinha. E ela pensava se a vida não era assim: um ir e vir; então, pra quê se preocupar com o futuro se a vida não era linear! ia e vinha, ia e vinha alegre a menina, com um sorriso ingênuo nos lábios. Vez por outra sentia um friozinho no pé. Era Juca... ela adorava o jeito que Juca lambia seu pé ou tirava seu pitó sem arrancar um fio de cabelo. Fazia uma cosquinha! As duas coisas na verdade faziam cosquinha. Mas o que a surpreendia mesmo era o fato do cachorro desamarrar tão delicadamente o seu cabelo! Ela olhava pra frente pra árvore e flores de cores bem fortes e achava tudo muito bonito, e comia um pedaço da goiaba, tão boa! e pensava que isso sim era vida!