segunda-feira, maio 24, 2010

E se Clarice me dissesse
O que tu não me disse?
E eu risse e pensasse que tu não me disse por tolice?
Aí eu ia dormir feliz com o sentimento que ela me traz, em paz
Lá no fundinho de mim ia ter um pocinho de água bem limpinha
Que ia lavar as dúvidas e me deixar que nem as roupas brancas das lavadeiras la de Jabitacá
Bem reluzentezinha e ia mimbora pro céu e nunca mais ia voltar
Pra num me aperrear.
E foi assim.

quinta-feira, maio 13, 2010

Tinham dias que ela acordava, colocava um batom vermelho e saía. Esses eram os dias em que ela queria ser outra. Pensava no que ela nunca faria e fazia exatamente essas coisas. É certo que existia uma limite pra isso. Nunca sairia de um jeito que acharia ridículo. Ser outra não era sinônimo disso. Mas gostava de ver a vida assim, cada dia por um ângulo novo. Num dia construía todas as certezas do mundo, só pra ter o prazer de destruí-las todinhas, uma a uma, no outro dia. Isso a fazia crescer. Perceber que nada existia, que nada era de um jeito só, e ao mesmo tempo que tudo podia ser. Só tentava amadurecer a tal ponto que não se decepcionasse quando suas certezas anteoriores ruissem. Queria ser assim, uma pessoa que não se afeta com essas coisas. Uma pessoa que só se afeta na medida certinha, nem demais, nem de menos. E isso era tão difícil pra ela, logo ela que se afetava com quase tudo, um poço carregado de água, que era arrastada pelas emoções. Então, cada vez que conseguia segurar o choro era uma vitória, se achava forte que só. Mas ao mesmo tempo ela gostava tanto de chorar, parece que ela se sentia mais viva nesses momentos, sentia a dor tomar todo seu corpo e sair, como uma catarse, naquelas lágrimas. Daquela vez ela chorou assim de propósito, como que para tirar tudo de ruim que tinha dentro dela, como se estivesse parindo algo, se encurvava toda, e aquilo saía de seu ventre e caía nas lágrimas, e saía no som. Mas quando ela conseguia segurar um choro também era muito bom. Porque lhe dava uma firmeza pra agir no mundo, mesmo ele sendo tão difícil. Ela ficava corajosa e acreditava que ia conseguir. Pode ser que esse seja um dilema que irá perpassar toda a sua vida. As pessoas fortes não caem em pranto por qualquer coisa. Ao mesmo tempo, as pessoas que nunca choram parecem tão duras, como se não existisse sensibilidade ali.
Mas no fim das contas, o que estava presente agora era a alegria, alegria do fogo, do entusiasmo, de ver muita energia nas pessoas e essa energia ir lhe contagiando. Ser alegre é tão bom! Mas sabia que também aí tinha que ter calma, afinal, essa alegria tinha que brotar de dentro dela, ela não podia ficar dependente da energia alheia. Mas também era muito difícil se controlar, afinal tudo acontecia ao mesmo tempo, idéias empolgantes de um lado, um “não sei porque, mas te amo tanto” de outro lado. Ah, assim ela não agüentava, não podia não amolecer!