quinta-feira, junho 24, 2010

Pra eles

Para Sandokan:

Ele chegou caladinho caladinho, num sabia nem onde colocar as mãos, todo acabrunhado. Num sabia ele, mas dentro dele tinha uma sementinha, que era só levar um pouquinho de sol começava a crescer e crescer até que não conseguisse ficar dentro dele e saísse.

Um dia ele encontrou um objeto e se identificou muito com ele, era fechadinho, mas se a gente apertasse num botãozinho o que tava dentro saía e era muito bonito. Esse aparelho tinha um olho grande e tinha mania de engolir as coisas bonitas e transformá-las num papel.

Quando Sandokan descobriu esse segredo foi no mesmo dia que a semente tinha germinado tanto dentro dele que, ele próprio conseguiu transformar em papéis tudo aquilo que ele sentia e que tava preso. Agora ele num era mais calado, nem acabrunhado, ele começou a falar pra todo mundo daquela beleza que ele via nas coisas.

Para Monick e Nielly:

Um dia eu tava andando pelo Coque e quando reparei tinham duas florzinhas nascendo, iguaizinhas, só que uma era vermelha e a outra amarela. A vermelha era Monick. Flor-mulher, séria e firme, quer e consegue. Ela tem as pétalas de veludo e um miolo cheio de amor. A amarela era Nielly, eita flor doida danada!! Ela é tão espevitada que as vezes a gente num percebe que ela ta ali fazendo toda aquela festa, mas que também tem muito amor guardado. Suas pétalas são amarelo brilhante que dói no olho só de ver. Amo as duas no mesmo vasinho do meu coração, elas tão lá, uma do ladinho da outra, lindas. E hoje, mais uma pétala nasce pras duas. Desejo que uma água muito pura regue vocês todos os dias e um sol muito forte dê muita energia pra vocês continuarem crescendo assim.

Para Jô:

Quando eu encontrei pela primeira vez com Jô ela tava toda encolhidinha, encostada numa pedra. Eu vi tanta fragilidade naquela menininha, que não tinha nem 10 anos ainda. Mas eu podia ver também uma doçura imensa, que só podia sair de um coração bom. Aproximei-me da criança e lhe contei todas as histórias que eu podia lembrar, as aventuras mais incríveis, os romances mais tórridos. Ela adorava, viajava junto, sonhava, dava tantas gargalhadas. Mas cada vez que se lembrava de sua tristeza caía no choro outra vez.

Então mudei de tática, pedi que ela me contasse qual o motivo de suas lágrimas. Só que Jô não sabia me dizer. Ela sabia apenas que se tratava de algo que doía muito seu coração, que mexia lá fundo. Ela me disse que antes sabia sim qual era o motivo, mas que depois de ouvir tantas histórias, tinha esquecido. Não conseguia mais lembrar, por mais que se esforçasse. Então eu disse, mas Jô, será que o teu coração está doendo mesmo? Isso já aconteceu comigo uma vez quando eu era da tua idade. Eu tava sentindo uma tristeza muito grande e não sabia o que era, só sabia que alguma coisa lá dentro mexia muito, me deixava inquieta. Contei a minha mãe. Ela riu e me explicou: “Filha, isso se trata do amor. O amor é como uma lagarta. Você já viu a transformação que a lagarta passa pra se transformar em borboleta?”. Quando minha mãe disse isso eu sorri. Achei engraçado pensar que ia nascer uma borboleta no meu coração batendo as asinhas. Ai comecei a imaginar de que cor eu queria a minha borboleta. Ela ia ser muito bonita, muito vistosa, chega ia doer o olho de ver a luminosidade dela. E foi assim que eu esqueci a dor que eu tava sentindo. Esqueci da dor da transformação da lagarta que queria se tornar borboleta, e fiquei alegre de pensar no futuro, de saber que eu tenho uma borboletinha dentro de mim querendo bater asas. Esse foi um ensinamento que eu guardo até hoje. Sempre que meu coração está doendo eu me tranqüilizo, porque hoje eu sei que é só uma fase, que logo a borboleta dentro de mim vai voltar a voar.

Quando terminei de contar isso a Jô olhei e ela tinha adormecido. Mas dormia sorrindo, com certeza sonhando com sua borboleta. Notei que saía dela uma luz rosa muito pura, era a luz do amor se purificando. Então fui embora tranqüila. Sabia que quando Jô acordasse a dor teria ido embora, ela nem mais se lembraria dela. Então ela voltaria a ser a criança serena de antes, que colhia flores coloridas todos os dias no jardim pra dar a sua mãe e que brincava alegre com o irmão rolando no chão de tanto rir.

quinta-feira, junho 10, 2010

Ela me abraça séria, profunda, num faz a mesma festa dos demais. Só de ver o rosto dela tenho vontade de chorar. Chorar de sentir quanto sentimento tem ali. Tenho vontade de abraçá-la bem forte. Mas ela é tão magrinha que pode se partir ao meio...