sexta-feira, janeiro 10, 2014

Passado tanto tempo, eu, Maria Mercedez venho aqui ver o que ainda tem de mim nesse blog. Acho bonitas algumas coisas, mesmo elas não sendo mais verdadeiras pra mim. Mas pra quê que a gente precisa de uma fidelidade com a realidade, não é mesmo? Afinal de contas, depois que me aproximei do budismo, muitas coisas que fazem a gente fazer arte não fazem mais sentido. A gente faz arte pelo sofrimento, pelo menos no meu caso, é a angústia, a inquietação emocional o que me dá vontade de escrever. Se eu tou bem, se tou tranquila, não escrevo, apenas vivo. Então penso que a literatura pode ser só uma brincadeira com esse sofrer, como diz Pessoa, "fingir tão completamente" até "chegar a pensar que é dor a dor que deveras sentimos". Minha relação com a literatura se transformou nisso, nessa brincadeira com o sentir que a escrita e a leitura provocam. A gente não precisa sofrer de verdade, a gente pode simular um sofrimento. Mas é engraçado esse prazer que a gente tem com o que o budismo chama de sofrimento, que nada mais é do que as emoções. A gente acha que pra ser feliz a gente precisa delas, que felicidade é sinônimo de efusividade. Mas descobri que não, que felicidade é uma sensação de bem estar, que por vezes deixa a gente efusivo, mas não tá condicionada a isso. E que envolve uma clareza de perceber que os momentos tristes também virão, aceitá-los, vivê-los.. Bem importante pra entender tudo isso, foi a meditação. É incrível isso, que simplesmente parar, sentar,faz a gente ir ganhando clareza sobre as coisas. Faz a gente parar de viver num turbilhão que atropela a gente.. Mas voltando ao tema inicial, eu falava, então, faz sentido ainda escrever, pra mim? Penso que isso pode ser importante num processo de autoconhecimento. É legal ir registrando o que a gente tá sentindo em determinados momentos, pensar em como reagimos aquilo e ver depois. E depois de muitos anos, ver como amadurecemos em certos pontos, em outros não ainda.. Acho que é isso por enquanto..