sábado, abril 21, 2007

Janaína

Porque aquelas músicas mexiam tanto com ela? enchiam seus olhos de lágrimas, seus pêlos se arrepiavam; elas entaravam como uma corrente de ar frio que passeia por todo o corpo e davam uma pontada lá dentro. Faziam-na extasiar-se cantando junto, sorrindo, chorando...
Janaína nunca vivera nenhuma daquelas coisas, então por qual razão era tão tomada por tudo aquilo? era como se cantasse por outras pessoas, sentisse por outras pessoas, vivesse um mundo imaginário que parecia tão real.
Ela, menina calada, tinha passado toda sua vida até então desse jeito: vivendo pelos outros, sofrendo, amando pelos outros. Talvez por isso mesmo gostasse tanto das historias fantasiosas, porque nelas poderia viver, de forma perfeita. Janaína gostava das coisas perfeitas. E como não existia perfeição na vida real, preferia viver o mundo dos sonhos e restar calada no real. E quando a vida real cansava de esperar que Janaína entrasse nela, ela, por conta própria tentava invadir Janaína. Nesses momentos Janaína ficava triste, as coisas queriam fugir do seu controle. Os homens imperfeitos se apaixonavam pela imperfeição dela e ela não sabia lhe dar com isso. Então, dizia não e voltava a cantar e chorar e rir do que nunca tinha vivido. Para ela era muito mais tocante.

terça-feira, abril 17, 2007

Janaína

Sempre que Janaína buscava um refúgio lembrava-se daquela casa grande onde vivera momentos tão felizes em tempos passados. Coisas tão boas que lhe marcaram tanto! O doce de leite emboloado, os passeios pela mata, as cadeirinhas brancas de almofadas de coração vermelho, os cinzeiros bronze de joaninha, as rãs no banheiro úmido, aquele cheiro de madeira, o chão frio, a luz vinda das frestras da janela, as bonecas nas pranchas do quarto, de olhos redondos, o caminhar ao som de estalos de finas madeiras que se encontravam no chão, arranhando-se nas plantas espinhosas... lembrava-se bem do tilintar daqueles sinos nos pescoços dos bois, do falar histérico das cabras, do cheiro de extrume do curral, daquela terra alaranjada..
Era incrível como essas lembranças lhe marcavam, serviam de refúgio. Na verdade, uma esperançazinha de reviver todas essas coisas, mesmo tendo a certeza de que elas nunca voltariam.
Estava tudo destruído, carcomido, tomado pelos excrementos dos morcegos, vazio, sem vida.
Essas recordações, há muito tempo distantes, não lhe doíam tanto, apesar de serem bem profundas. Mas as outras, as recentes, tão boas que pareciam sonhos traziam-lhe sentimentos contraditórios. Por vezes ficava feliz, se percebia rindo, em outras, aquilo lhe perturbava, fazia-a perceber o quão tiste é o momento de agora em comparação àquele. Será, então, melhor nunca passar momentos tão bons? viver numa estabilidade tranquila? Ela sabia que não, pois isso era também desconfortante. Ou melhor, era o motivo maior de suas tristezas... Não havia, então, saída alguma. Apenas esperar pra ver o que acontece... "botar o corpo no mundo", como diria certo amigo ao citar a música..

quarta-feira, abril 11, 2007

Que ardência é essa estou num forno sem sentido nem sentimentos, meus dedos escorregam pelas teclas enquanto escuto homenzinhos gritando aqui do meu lado, um barulho de prato la longe e o silêncio minha barriga se movimenta sozinha estou respirando ainda? Porque não uso vírgulas? Pode ser porque elas cortam o pensamento ou porque num sei usá-las mesmo num to pensando nada mas como pode num se pensar nada estou pensando então no que estou escrevendo para tentar me ocupar e sair da existência vazia que dói porque é vazia... mas não não sinta pena de mim porque afinal todos são vazios quando se reconhecem assim.