quinta-feira, dezembro 27, 2012

Numa procura por me achar, percebi que isso nunca poderia acontecer, que eu nunca acharia nada, que não tem o que achar. Li num livro que na verdade a gente parte em busca de um não-eu, algo bastante desesperador pra nós ocidentais, que temos o eu como centro de tudo. E nessa possibilidade de haver um não-eu foi que me perdi, que me assustei, que me desesperei. Mas será possível? Possível acho que seja. Mas, pra mim? O eu fica a todo tempo brigando, querendo ter o controle das coisas, a pensar " a felicidade não é assim, minha cara", "A felicidade é por ali". Aí você acredita nesse eu, vai atrás dessa felicidade e vê que era tudo mentira. Mas quem era mesmo que estava procurando algo? Então era só parar. Era isso? E deixar que o silêncio descortine tudo. Calar o eu quando ele quiser falar. Vazio.

terça-feira, dezembro 04, 2012

Hoje, ali, olhando aquela poesia em forma de bonecos que se moviam com a sutileza de mãos femininas bordando o vento, ela se lembrou de seu amor do passado, do gosto de tristeza que ficou... Ela acha que até poderia construir uma vida com ele, mas ele precisaria acessar elementos em si que ela não sabe quando ele conseguirá, ela não sabia se um dia isso irá acontecer, mas prefere ser otimista e desejar que sim. Parece que ela não iniciou mesmo um novo ciclo amoroso - era assim que ela sentia.. Será que isso teria a ver com o tempo? O tempo que passou junto a ele, que dividiu o cotidiano.. Será que era mesmo isso que mais importava? A memória.. ela sempre ia e voltava em suas ideias e retornava para essa em específico.. a memória.. Mera soma de fixações que não deve levar tão em conta? Ou soma de afetos que produzem quem somos hoje? Será mesmo importante juntar esses cacos do passado? Trazer tudo à tona de novo? Ou estar sempre construindo um novo presente, livre de tudo isso? Ou essas duas coisas também não precisam estar separadas? Então juntar os cacos com liberdade, vendo tudo com ludicidade.. Seria assim? Aí ela se lembra mais uma vez de Manoel de Barros, aquele velho eterno menino, que resolveu inventar suas memórias! Isso sim é lidar de forma livre com aquilo que passou! Será que é assim? Num sei, só sei que acho tão bonito ver ele falar dos insetos e das coisas imprestáveis e da arte da palavra.. Ele sou eu no meu eterno presente. Isso eu sei, sempre serei ele. É só buscar lá dentrinho de mim que acho aquele velho menino. Assim, toda vez que me perco, pego as memórias inventadas dele e me acho de novo. Pelo menos esse amuleto eu tenho.

quarta-feira, setembro 12, 2012

O brilho

Do lado de cá, a tranquilidade da meditação silenciosa. Coração gélido? Não sei, só sei que me protege. E é disso que preciso no momento. Me envolvo, fico vulnerável, me entrego, depois volto a ficar firme. No café você me falava coisas sem sentido, teorias sobre o surgimento da terra e explosões solares. Nada disso eu escutava, conseguia apenas reparar na criança triste que passava com a mãe. Mas que cara poderia ser aquela? Não era cara de tristeza infantil, era algo grave, doloroso. Olhos fundos. Vai ver não era a criança que sentia aquilo, mas eu, me enganando e comendo aquele bolo de banana, afogando no doce a mágoa que você me fez. Você aí, nada afetado por todo aquele turbilhão me deixa ver que de fato não está aqui. Será que algum dia esteve? Prefiro caminhar na praia sozinha, sentir a brisa me tocar, o cheiro de mar me envolver. Esquecer o que não era pra ser. Velejo em mim, procurando ondas mais calmas, encontro poços de águas muito bonitas, dentro pedrinhas brilham, ofuscam meus olhos e sei que não há nada ali. Não, não há nada. O que há é a felicidade de saber que o brilho ainda existe e sempre existirá e que o destino das águas é permanecerem mansas e profundas, assim como está meu coração agora.

terça-feira, julho 03, 2012

Uma dor de ver, dor de saudade, dor de perda
Mas perder o quê, se nunca tive?
Vou amar onde for
Mesmo que não debaixo daquele teto, de dentro daqueles corações
Amo no mundo aberto, debaixo do sol
Canto pros passarinhos que quiserem ouvir
Não sei cantar ainda
Choro de não saber
Mas depois me lembro que tem sempre alguma coisa que a gente pode oferecer
Um carinho transparente em forma de pensamento é o que eu posso dar agora
Então fica sendo
Mas até quando?
Não importa
Vou não sei pra onde do infinito, pra casa que não tem portas nem janelas, pro vazio cheio de luz
Deixo tudo que é de ferida, de marca, de sentimento
Levo só minha vontade
Hoje é o que tenho de mais minha
E fica sendo até não sei quando

quarta-feira, maio 23, 2012

A menina cabocla




Num dia lindo de outono, Maria das Graças acordou e descobriu que estava grávida. Como ela sabia? Ela começou a sentir algo muito profundo dentro dela, não sabia o que era direito, só que era algo muito forte, que penetrava lá dentro, assim como faz o som dos violinos. Ela se levantou de súbito da cama, sacodiu Artur, que dormia ao seu lado: "Artur, Artur, acorda, Roberta nasceu aqui dentro de mim". Fazia um tempo que o casal queria ter mais uma menina pra embelezar a casa. Foi dito e feito. Quando Roberta nasceu,em fevereiro, todo mundo quis ver o bebê na maternidade. Era de espantar o sorriso luminoso que a menina tinha. Ela era morena, dos olhos fortes, iguaizinhos aos da avó cabocla dela. Roberta tinha uma coisa diferente, mas ninguém sabia explicar direito o que era.

A menina foi crescendo.. O passeio que ela mais gostava de fazer era ir pro Sertão, parece que aquela terra laranja era da mesma matéria de sua pele, seca e forte. E assim mesmo era Roberta. Chorar? Chorava nada. Podiam fazer o que quisessem com ela, ela ficava lá, braba toda, incólume. Ela aprendeu com as terras de sua vó, que sustentavam aquele cacto todo o tempo, quando dava uma chuvinha pequenininha, era tudo ficando verde. Foi naquela terra rachada que Roberta aprendeu a viver, economizava o choro, igual que nem o Sertão economizava água. Sua vó até tentava lhe explicar, "Mas, Roberta, Deus num tá economizando não minha filha, o problema é que os vaqueiros num tão cantando direito, eles tem que cantar sete vezes em cima lá da serra "Ôoooe", pra avisar a Deus que ele pode mandar derrubar o aguaçeiro". Roberta fingia que acreditava, mas ela sabia que na verdade o Sertão era igual a ela, num chorava porque era forte!

Mas num era só essa a característica da menina não, o que fazia de Roberta uma menina diferente, e que fez Dona Graça sentir desde que a menininha era semente dentro dela, era na verdade a mistura dessa força com uma bondade muito grande. Desde pequena Roberta num podia ver ninguém precisando de ajuda no meio da rua, sempre dava um jeito de fazer alguma coisa. Um vez tava na praia e viu um menininho negrinho todo triste. Aí Roberta chegou perto e perguntou o que ele tinha. O menino tinha pego o único dinheirinho que tinha e tinha comprado picolé pra vender na praia, mas foi jogar futebol e esqueceu de vender.. resultado, o picolé virou suco.. O que foi que ela fez? "Oxe, mas eu adoro suco de picolé, é meu preferido! Foi lá e comprou tudinho, e ainda bebeu, era morango, misturado com chocolate, com coco, pense num suco bom!". Mas o que Roberta quase morria se visse era bichinho abandonado. Pense que ela ficava triste! O sonho dela era ter uma casa gigante, cheia de bichinho que ela pegasse na rua.

Quando Roberta cresceu, num tinha ninguém mais estudiosa que ela no colégio, "eita menina danada", organizada, então! Ela só num gostava de namorado: "Esses trê lê lê prá cá e pra lá né comigo não!. Eu só vou é casar quando encontrar um homem que preste!". E assim foi.. Um belo dia tava Roberta sentada na frente da biblioteca, lendo pras crianças que tinham por lá, aí aparece um moço, bonito que só Harry Potter, ela olhou assim por detrás daqueles óculos.. Ele olhou assim pros olhos de cabocla dela.. Foi paixão na certa. No outro dia já tavam marcando o casamento. Levaram o cachorro, meia duzia de gato e foram simbora. Felizes estavam , felizes ficaram. Todo dia a família aumentava, era um bichinho que Marcelo trazia pra casa. Dia desses ele trouxe uma família inteira de gato. Tinha visto primeiro o filhinho, ficou com pena do coitado, era orfão. Mas daqui a pouco chega a mãe, tava com a patinha machucada, bichinha. E o pai então!? Tava magrinho, magrinho. Ele já tava pronto pra ir embora, quando vê aparece o resto dos filhotinhos, ele num ia deixar sete orfãos, num é? Aí pronto, teve que levar todos. Foi assim que Marcelo explicou a Roberta quando chegou em casa.

Quando Roberta cresceu e ficou bem grande, ela começou a ficar triste porque a mãe dela, aquela mesma que tinha dado a vida a ela, tinha virado estrela. "Mas Roberta - diz sua vó cabloca - ser estrela é a maior sorte que a pessoa pode ter. Você sabia que a luz que as estrelas tem, servem pra iluminar a gente tudinho aqui na terra? Mas num é iluminar só de luz não, minha filha, é de energia também. Sua mãe quis ser estrela pra ajudar muita gente. Você num fique triste não, que a estrela também tá brilhando em você. Dentro do seu coração minha filha, tem uma estrela tão forte, que você num sabe, mas a gente, da linhagem das cabloca tem essa missão, viu? A gente nasceu foi pra trazer luz pro povo daqui. Então chore, chore tudo que você num chorou nesse tempo todinho,e deixe as terra do nosso sertão bem verdinha, que é pra florir bem muito. Mas depois, minha filha, você tem que voltar com aquele sorriso luminoso que só você tem. Sua mãe tá bem, num se preocupe não. Vá cuidar dos seus bichinhos, vá". Aí Roberta ficou melhor, chorou, chorou, regou as plantas tudinho, e toda noite ela olha pro céu pra matar a saudade da mãe-estrela.

Miaaaau, miaaaaau (diz a família dos gatinhos )

Ôooooe, Ôooooe (fazem os vaqueiros no Sertão)

domingo, maio 20, 2012

Carta à minha mãe

O amor não exige nada em troca, ele apenas se dá pelo prazer de se dar. Um dia, mãe, tu soubesse que esse amor existia. Mas por que tu esquecesse? Tu diz que sofreu muito, que já passou por muita coisa e por isso tu faz o que faz. Mas tu tá feliz agora, mãe? Olhe bem dentro de si mesma, veja se a cirurgia plástica, se o salão de beleza, se os sapatos e bolsas te fazem realmente feliz... Você tem uma coisa que eu admiro bastante, que é uma energia muito forte, que se recupera bem fácil. Você mesma sabe, você não consegue passar mais de um dia triste, tem uma alegria interna maior, tem um sol dentro de si, aquele mesmo sol que lá em Candeias você fazia questão de nos mostrar de manhãzinha. Isso é muito bonito, mãe. Mas tem algo em você que não anda nada bem, um estresse permanente, um achar que precisa fazer certas coisas quando você não precisa de nada disso! Mãe, foi você que me ensinou a ser assim como sou, a me sensibilizar com as injustiças desse mundo que a gente vive. Agora, você mesmo entrou nesse jogo, nessa trama, e nem mesmo percebe... Não, mãe, não quero chegar no fim da vida e me perguntar com tristeza “O que foi que fiz da minha vida?”. Eu não consigo, mãe, só consigo viver tendo certeza a todo momento que o que estou fazendo é certo. Chegam horas que os homens param e se perguntam o sentido disso tudo, quando nada mais parece fazer sentido. Eu vivo me perguntando isso, mãe, você entende? E é por isso que a todo momento me respondo essa pergunta. E só consigo responder a partir do amor, sabe? Onde está o amor na vida que você tá levando agora, mãe? Você diz que faz isso tudo pelo amor que sente por nós, mas não tá dando certo. Há uma infelicidade pairando em nossa casa...

sexta-feira, maio 18, 2012

Ideias soltas

Felicidade, que gosto tem essa palavra? Gosto de riso de criança, de chuva caindo no telhado, de ver filme de mão dada? Ou gosto de vermelhidão profunda, de parto, de Elis cantando com voz rasgada?

Vim aqui nesse blog escrever pra poder inventar frases que me trazem felicidade só de eu dizê-las. Assim, da mesma felicidade que Milton me traz quando eu escuto ele cantar aquela música "Tudo o que você devia ser", ou qualquer música de Clube da Esquina. Parece que é mesmo uma especialidade desses mineiros, né, cantarem de mansinho, e conquistarem um canto no coração da gente.

Mas voltemos às palavras... Elas podem fazer a gente feliz, é só inventá-las do modo certo. Pra quê ficar inventando nome feio, que traz dor? Eu mesma, no meu blog, que é meu, só escrevo arco-íris, algodão-doce e musica de pir lim pim pim. "Mas Maria, isso aí é tão doce que chega enjoa só de pensar", vocês devem estar aí querendo me dizer.Tá certo, uma eu em mim diz isso, mas a outra sabe que uma vermelhidão às vezes também é boa.

Agora meu cachorrinho passou, trouxe na boca um osso que achou no quintal. As pessoas imaginam que os cachorros fazem isso simplesmente porque querem comer. Ledo engano.. os cachorros, minha gente, têm o osso como um tesouro, um objeto de afeto, assim como a gente guarda a jóia da vovó naquele porta-jóias antigo. (Se bem que eu acho que ninguém na vida real faz isso, só nos filmes, mas imaginemos que elas fazem..) Assim, os cachorrinhos guardam esses ossos como guardamos nosso álbum de retratos, toda a memória deles, tudo que eles possuem estão ali, nas dentadas marcadas no osso. Cada dentada, um fato de suas vidas: o dia em que sua dona chegou de vestido vermelho balançante, o dia em que ganhou um pedacinho de bolo de rolo, o dia em que lambeu as partes de Dorotéia quando ela tava no cio... O mesmo acontece com o novelo de lã dos gatos, mas não vou entrar em detalhes, é só vocês usarem as mesmas regras dos cachorros.

Aí eu volto pra cá, me vejo escrevendo palavras mais uma vez, já que nada disso aconteceu de fato, mas será que o fato de eu estar aqui escrevendo é real? Que mãos são essas que, por hora, teclam? Estão comandadas por quem? A pergunta do quem sou eu é insolúvel, todos sabemos. Então, quem vos escreve é um buraco negro, um vazio branco de pensamentos soltos e alheios. Tem um autor que diz que as ideias vêm de uma fonte no mais profundo de nós mesmos. Então é isso, há apenas essa fonte, imagino uma fonte de água, sediada no nada, de onde brotam palavras e imagens. A água é límpida na origem mas vai ficando cada vez mais turva, cada vez mais turva, cada vez mais turva...

Sentir. Só sentir. Sem racionalizar. Você consegue? Sentir a energia fluir no seu corpo, viver sendo levado pelo corpo, comer o que o corpo pedir, namorar quem o corpo quer..

Afeto. Será que o segredo da vida é viver pelo afeto? Se eu consigo viver sem afetar ninguém e sem me afetar, faz sentido?

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Retiro logo: paz, encontro, leveza. Ir com Caio ouvindo Rômulo Fróes, sendo alegre. Caio desperta a alegria dentro de mim. Felicidade.
Alexandre fala tim tim por tim tim do meu trabalho, passo a enxergar um trabalho ali, fico feliz.
Têm ratos no sofá, temor.
Será que sou muito açucarada? Devo ser. O açúcar me atrai mesmo. Fazer o quê? Na próxima encarnação venho como menina má, nessa não. Mas também não sou lá nenhuma flor, só engano.
Ele me desperta a escrita, gosto de conversar com ele. Mas não posso mais. Aí volto a conversar comigo mesma. Será que sinto o mesmo prazer? Tento.
Medo de se entregar, medo de se magoar. Mas vontade, de se apaixonar.
Trombone com pianinho, trombone com pianinho
Será que vai dar tudo certo? Nunca tudo está certo, nem nunca ficará. Mas agora até que está.
Ele não foi, ele não foi. Agora não quero mais saber. Ele sabe se cuidar, ou não.
Praia, água, música, vento, beijo. Huuum.
Dançar, rodopiar, sentir o vento bater no rosto, o cabelo voar sem se preocupar.
Vida.
Vida.
É.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Será que as luzes que se acendem nas janelas acendem por dentro também das pessoas?

O que se acendia em Antônia era o seu desejo de, finalmente, comprar um colchão novo.Em Janaína, brotava um desejo de encontrar um amor. Já em Antônio, nascia uma luzinha que ele não sabia bem explicar o que era... parecia um vaga-lume. Ela piscava igualzinho aos pisca-piscas que ele tanto via nessa época do ano. Piscava sempre que ele tinha uma descoberta. Outro dia foi quando ele viu uma formiguinha andar na grama carregando um pedaço de comida, ele ficou tão surpreso, como ia caber aquilo tudo no bucho dela? Teve outro dia também que a luzinha se acendeu quando ele viu uma borboleta voar. Ele ficou reparando em todas as cores que, de repente, surgiam nas asas dela. Achou muito bonito de ver. Mas a luz piscou mesmo foi quando ele viu, furtivamente, a calcinha de Júlia naquele dia ensolarado. Achou linda, ficava imaginando sentir o tecido de algodão em sua pele...

E assim a vida ia seguindo, cada um com sua luzinha: Juca, quando ganhava um osso; Zeca, com um prato de leite; a mosca, com o pão da padaria, o mosquito, com o sangue da perna da moça, o passarinho com a minhoca, a minhoca com a terra... E assim se cumpria o ciclo da vida. Num era Natal nem nada, era só a vida seguindo, e as luzinhas apagando e acendendo, apagando e acendendo...