terça-feira, agosto 05, 2008

Ela começa a escrever com medo de sujar o caderno bonito que ele lhe deu. Pensa em como é bonito mesmo esse presente, ele veio interminado. As letras que escreve o completam. Lembra do filme que viu enquanto vê o chão se mover.
Janaína volta a escrever depois de longo tempo. Escreve e sonha a uma só vez. Lembra do amigo escritor que está em seus sonhos. Será que ele precisa dela? No sonho ela o abraça mas ele não diz nada. Será que você um dia me falará algo? Ou nossa comunicação continuará em olhares e gestos vazios?
Ela sempre pensou que no mundo existem pessoas que não nasceram para conversar com certas outras pessoas. Existe uma espécie de imã comunicativo que ou funciona ou não funciona. Pronto.
Com ele era assim. Mas no fundo ela achava que se comunicava de outra maneira com ele.
Janaína passara por um momento bom, de reencontros, espirituais, afetivos, momentos bem felizes. Hoje ela não mas percebia a felicidade como momentos efusivos. Ao contrário, eram mansos e profundos.
Janaína sempre teve essa mania de profundidade. Uma vez até um amigo tirou sarro dela perguntando se existem níveis de profundidade. Mas era assim e pronto.
Ela passava muitos momentos calada como que a absorver tudo o que se passava ao seu redor. Não conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo: agir e observar, então optava pela segunda. Pra falar o que pensava parece que ela precisava se sentir em casa, por isso, fugia de todas as situações em que isso demorava a acontecer.
Hoje ela havia falado tanto que pensou que qualquer coisa era possível.Tudo é possível de ser dito. E isso tinha um poder transformação muito grande. Parece que a gente sempre é acostumado a agir segundo alguns princípios, determinações e quando a gente começa a rompê-los tudo fica mais flexível.
Nada existe. Ponto.