sexta-feira, junho 22, 2007

"Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente
Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes
Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga"

(Só não sabe disso tudo...)

quinta-feira, junho 14, 2007

De chorar, era isso que ela tinha vontade de fazer naquelas horas. Horas em que sabia tudo que devia dizer, que tinha certeza que era aquilo que as pessoas deviam entender, mas não entendiam. Ficava então naquele exerício de calar para que as pessoas entendam sozinhas - um amigo lhe ensinara: Não, não fale tudo, deixe que as pessoas descubram - ela concordara, era isso que devia fazer, esperar. Esperar que a vida brote, e só assim as pessoas descubram certas belezas, belezas puras e fortes em algo aparentemente frágil. Mas para ela, Amaranta era tudo tão claro. Era tudo muito bonito, a beleza simples e pura das pessoas. Há algum tempo Amaranta descubira isso, que as pessoas são muito bonitas e ficava encantada de cada vez se encantar mais com elas.
Uma das coisas que Amaranta gostava mais de fazer era descobrir! Descobrir gente, idéias, coisas de sentir diferente. E ficava assim, brincando mesmo de descobrir. Cada dia escutava uma voz e harmonia nova; quando se cansava, achando que já tinha descoberto tudo em relação aquilo então mudava de brinquedo, ia pras letrinhas, tão cheias de coisas novas, tão abarrotadas de idéias que ela não sabia nem como é que cabiam no papel! só que ela acabou descobrindo que as vozes, ou barulhos, nem sempre eram harmoniosos : foi uma mundo crescendo, seus ouvidos se abrindo e se fechando, com as dores, os ruídos, os sons fininhos que arranhavam lá por dentro... Então tropeçou em outra brincadeira, a das cores e formas e sons e que também tinha letras e idéias e tudo mais que uma pessoa quizesse colocar. Abriu um sorriso largo, os braços, sentia que era tudo tão grande, mais tão grande que não ia conseguir ver e sentir e ouvir e pensar tudo ao mesmo tempo; mas as vezes conseguia, e ficava tão feliz! Só que aquilo não durava muito tempo, o balão estourava e ela caía no chão sempre, no fim e estava lá de novo, os rostos que não lhe agradavam porque escondiam, ou mostravam coisas ruins, mesmo que de pessoas que ela sabia que eram boas. Aí ficava triste, com um embrulho lá dentro, pensando que era tão bom se as pessoas não ficassem tristes. Queria sempre chegar e ver sorrisos, mas descobrira também que não era assim que aqui no chão as coisas aconteciam. Era difícil pras pessoas, inclusive pra ela mesma, diante de tanto escuro, de não conseguir enxergar o que é que vem depois, de ter medo de não ser nada.. Chorava e via que assim o medo ia embora, secava, era bom; depois olhava a cara inchada no espelho e ria, nessas horas via que num era difícil viver não, era só chorar, depois a gente ri e pronto acabou.