sábado, janeiro 13, 2007

Antônio

Antônio sempre fora aventureiro, quando criança se encantava em ir à praia e ficar a observar os barcos a flutuar. Era tão bonito como eles se moviam pra lá e pra cá, pareciam despreocupados. Antônio sempre preferira observar o mar a ter que passar horas diante da televisão, como fazia sua família. Ele tinha descoberto como lá era bem melhor, o ângulo de visão era a se perder de vista, e ainda mais ainda tinha cheiro e um ventinho frio, calmo, do qual ele tanto gostava. Antônio quase não falava, a maior parte de seu tempo preenchia a pensar. Pensar em como aqueles astronautas, flutuando no céu, estavam soltos, soltos de verdade, porque aqui na Terra a gente sempre tá pisando no chão, ou preso a algo que nos faça voar; mas lá não, lá eles tavam soltos no espaço, e iam caindo, rolando e caindo. Antônio era assim, ao mesmo tempo que admirava os astronautas por estarem “soltos”, encantava-se com os pescadores pelo fato mesmo de estes estarem de alguma forma ligados à terra como ninguém mais. Era onde moravam, de onde tiravam seu sustento. Antônio chegava mesmo a pensar que eles não precisavam nem falar de tão simples que era sua vida. Esse encantamento de Antônio pelo mar era facilmente explicável pelo fato dele sempre ter morado em uma vila de pescadores. E como todo poeta ou pintor dos quais ouvia falar, também tinha uma afetividade enorme pelo lugar de onde viera. Naquele dia, Antônio, que morava a alguns metros do mar, decidira que iria ficar ali a partir de então, naquela calçada. Foi uma decisão daquelas em que a gente apenas obedece ao pensamento e nada mais. Lá no fundo ele sabe que é impossível morar ali, mas o que fazer se o comando de seu cérebro era este? Mesmo que tentasse se levantar não iria conseguir. Até que de súbito, de um golpe só levantou-se e foi embora pra casa.

Um comentário:

Unknown disse...

parabens por antônio é um texto suave, livre e inocente muito bom mesmo