quarta-feira, setembro 10, 2008

E voltou pra São Pedro...



Ela fala, sem conseguir não mexer os braços, não se empolgar, não deixar transparecer todo o amor que sente pelos filhos.

Ela é Helena, tem três filhos e é casada com um homem brincalhão que teima em chamar de Pacheco. Veio de São Pedro do Cordeiro, médio Sertão. Já morou em Garanhuns, foi até São Paulo e aportou aqui em Recife, de onde não pretende sair.

Eram onze irmãos. Todos moravam na casinha, vez por outra sem água, sustentada pela velha Maria Luiza. Ela trabalhava na roça, no sítio da família. Helena diz que não gostava quando ia pra lida com a mãe e ela lhe colocava num cesto, chamado caçoá, que ficava pendurado no jumento. “Não via nada e era um balançar danado!”

O pai de Helena morreu quando ela tinha 9 meses. Só sobrou Maria, parteira e agora dona de venda para cuidar das crianças. Mulher forte, querida por todos, como diz Helena entusiasticamente, contando da mãe. Diz ela, “Quando ela morreu a casa encheu de gente”.

E Helena herdou o espírito maternal de dona Maria Luiza. Em tudo que fala, sempre dá um jeito de colocar os filhos no meio da história. É assim que conta sobre seu filho mais velho, Digo. Ele nunca se acostumou com a cidade grande. Quando Helena se mudou pra São Paulo, diz que o filho só esperou terminar o ensino médio para começar a trabalhar e poder voltar pra São Pedro, pra junto da família. Apesar de nunca ter morado lá, já que nascera mesmo era em Garanhuns; Digo arrumou as malas e foi se embora.

Tinha 20 anos apenas. Desesperada Helena consegue voltar pra Pernambuco, por o que ela garante ser “obra de Deus”, se instalando em Recife. Traz o filho de volta para junto de si, ele presta vestibular, passa. Mas quando está pelo terceiro ou quarto período o que faz? Volta pra São Pedro.

Chega até a montar uma vendinha lá, sem sucesso. A pequena cidade já estava abarrotada delas. Mesmo sem amparo financeiro ele fica. Ela não sabe por quê. Nem ela mesma tinha tal apego pelo lugar. Ela acha que é do espírito sertanejo do menino, de querer estar perto da família.

Foi só até ele arranjar uma noiva, parente distante como é de costume em interior. Agora ele se preocupa com a moça, quer dá-lhe boa vida. Volta então pra Recife, presta concursos, passa em um deles e, antes que o resultado saia o que faz? Volta pra São Pedro.

Depois de muita espera recebe a novidade, é chamado para o emprego, mas em Caruaru. “Ah, mas Caruaru é grande demais”, deve ter pensado o rapaz. Fica, então, feliz quando encontra um moço que iria trabalhar em Sertânia. Troca com ele e agora está lá, ainda no Sertão.

O coração de Helena parece dividido entre cá e lá. Parece ser o mesmo sentimento que ela nutre por Recife e os lugares afastados, quer estar em ambos os locais. Diz que vai até visitar os interiores, mas sua casa em Recife permanece aqui, pra quando quiser voltar.

No fim diz Helena, tchau, obrigada pela visita, com um sorriso e jeito acolhedor que faz mesmo a gente se sentir de casa. E vamos, com um resto de riso no canto da boca e o coração remexido de sentir a vida assim tão de perto.

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