quarta-feira, setembro 10, 2008

O velho


O velho sem conselhos
De joelhos
De partida
Carrega com certeza
Todo o peso
Dessa vida..

Estava ali o senhor, na sua cabine pequena do mercado São José, cheia de miudezas empoeiradas, que traziam escrito “Recife – Pe”.

Será mesmo que ele possuía compradores? Sua banca ficava perdida no meio de outras grandes repletas de coisas. Havia vendedor que possuía até mais de uma. Enquanto ele, ali há 40 anos, parecia permanecer do mesmo jeito desde a morte de sua esposa. Na parede havia um quadrinho pequeno com o retrato dela, estava sempre ao lado de seu João Pedro.

Ele não parecia estranhar a presença de duas compradoras que faziam-lhe apenas perguntas; primeiro sobre seus produtos, depois, sobre sua vida. Tímido, sério, sem olhar-nos no rosto, o velhinho ia aos poucos falando.

Sim, tinha filhos, uns em São Paulo, outros aqui. Morava com um deles e o neto em Casa Amarela. Não demonstrava um sinal de riso no rosto.
- Eu já tou aposentado, mas gosto de vir pra cá, pra ter um destino todo dia de manhã quando acordo. Disse o velhinho.

Não sabe pra que veio
Foi passeio
Foi Passagem

Veio de São Bento do Uma e não tinha saudades de lá não. Padeceu sim ao chegar aqui, mas tinha se acostumado a essa vida. Lá? Tomava água de quartinha – daqueles potes grandes de barro. Ainda aqui tem um.

Pode. Pode tirar foto sim. E ficava lá o velho João, pousando feito matuto, sério e estatalado. Pegou uma vassoura, meio sem jeito, pra disfarçar a pose, e depois voltou a ela. Parecia aquelas fotos antigas de general sisudo.

O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Nada
Só a caminhada
Longa, pra nenhum lugar..

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